Em Tapejara, no norte gaúcho, moradores do bairro São Paulo convivem com a falta d'água constante há pelo menos 30 anos. Quem mora há mais tempo na região relata a incerteza diária de ter abastecimento ao longo do dia: é comum que o abastecimento seja interrompido das 12h às 22h.
Na mesma casa há 30 anos, a doméstica Jocelaine Guerra conta que há problemas no abastecimento desde que se mudou para o bairro. A falta d'água é tão comum que ela já criou um sistema para adaptar a rotina e, todos os dias, prioriza o uso da água. Pela manhã, junta água para fazer o almoço e outras atividades e só lava roupa quando o abastecimento é suficiente para encher a máquina.
— Tem gente aqui que mora no bairro há 40 anos e falam que 40 anos atrás já tinha esse problema de água. Eu estou aqui há 30 e sempre teve problemas de água — disse.
A aposentada Heloísa Teresinha Silva Miranda vive no bairro há 20 anos. Em 2013, ela deu entrevista ao Jornal do Almoço, da RBS TV, e relatou os problemas de abastecimento que se arrastam desde então. Na época, a promessa era de que o caso seria resolvido em poucos dias. Ela, contudo, espera uma solução até hoje.
— Não melhorou nada, nada. Disseram que em pouquinhos dias iam resolver, e não resolveu até agora. Isso dá um nervoso na gente, na família, sabe? De pagar e não ter o direito de ter um banho bom... De fazer uma limpeza boa, uma faxina — reclamou.
Para amenizar os problemas, Heloísa comprou uma caixa d'água. Apesar de ajudar em emergências, as sete pessoas que moram na casa não conseguem tomar banho normalmente. Lavar a louça durante o dia também é tarefa rara, pois é necessário guardar a água disponível.
O filho dela, Sandro Silva Miranda teve uma ideia semelhante. Há cerca de duas semanas comprou um reservatório de água. Quando o abastecimento volta, ele enche o tonel de 270 litros:
— Quando eu não tinha esse galão que era muito pior. Só uso em casos de emergência.
Perda de projetos elétricos e conta de R$ 600
Além das dificuldades do dia a dia, muitos moradores relatam que já tiveram avarias ou até perda total em objetos elétricos que usam água, como chuveiros, torneiras e até máquinas de lavar. Jocelaine, por exemplo, teve que trocar quatro torneiras.
Outra situação são contas de água com valor elevado. Recentemente, o aposentado Celso Dallasanta recebeu uma fatura de mais de R$ 600. Ele, porém, vive apenas com mais uma pessoa e nem tem água todos os dias para a conta chegar a esse valor.
— Seiscentos e cinquenta reais foi o que eu mais paguei. Agora está R$630... Quanto mais falta água, mais paga. Isso é normal? — questionou.
O que diz a Corsan
Questionado, o superintendente da Corsan, Aldomiro Santi, explicou que a empresa trabalha em soluções para melhorar o abastecimento do bairro São Paulo e também de outros pontos de Tapejara. Dentre as alternativas estão novos poços e também estratégias para aumentar a vazão de água na região.
— Nós melhoramos um elevatório que tem na Rua Oswaldo Cruz, para aumentar a vazão e abastecer o reservatório que fica na parte alta do bairro São Paulo. Além disso, estamos colocando em operação um reservatório de 100 metros cúbicos de e um poço no loteamento Zopas, que deve entrar em operação dentro de dois ou três dias. Também perfuramos dois poços que vão entrar em operação nos próximos dias para qualificar todo o sistema de Tapejara — afirmou.
Segundo os moradores, por volta das 17h de quinta-feira (4) havia água no encanamento. No mesmo dia, pela manhã, o sistema da Corsan que acompanha o mapeamento dos reservatórios na região apontava nível de quase 80% de abastecimento na região do bairro São Paulo, em Tapejara.
Nesta sexta-feira (5), o abastecimento ocorreu normalmente, informaram os moradores.