Afucs e Guarani devem recorrer de punição imposta pelo Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-RS) em caso de racismo ocorrido no dia 31 de agosto, no confronto entre as equipes pelo Gauchão de Futsal. Na ocasião, o clássico foi interrompido por conta de denúncias feitas pelo técnico Raphael Melo e o goleiro Léo Silva, do time de Frederico Westphalen. O clube optou por sair de quadra e não retornar.
No julgamento realizado na manhã desta quinta (12), ficou definido que clássico não será retomado e os três pontos da partida irão para a Afucs. A equipe de Seberi, no entanto, foi condenada a pagar multa de R$ 5 mil e perda de dois mandos de quadra. O Guarani, além de perder os pontos em disputa, deve pagar multa de R$ 500. Ambos os clubes não concordaram com as punições e devem recorrer da decisão imposta pelo TJD-RS.
Através da sua assessoria, o Guarani disse que está em contato com o seu jurídico para analisar os próximos passos. Já o goleiro da equipe de Frederico Westphalen, Léo Silva, vítima dos xingamentos racistas, lamenta o resultado.
— Infelizmente, certas punições controversas, como essa que foi decidida, dará mais brechas para outros casos de racismo. Sinto até vergonha de insistir num assunto que já era pra ter acabado, mas infelizmente existem pessoas que se omitem a favor desses casos. A luta contra o racismo é constante, e, se não existirem punições duras e severas, isso continuará acontecendo no nosso esporte — disse o jogador.
A Afucs se posicionou através do diretor de futsal Dione Junges. Para ele, a punição financeira é incoerente com a realidade do clube, bem como a perda dos mandos, visto que o clube auxiliou no processo de identificação do autor.
— A Afucs é totalmente contra qualquer caso de racismo. Racismo é crime e quem deve julgar os responsáveis é a justiça comum. Achamos a punição aplicada ao clube pesada demais, visto que a entidade tomou todas as medidas que cabiam a ela. O torcedor, menor de idade, foi identificado, retirado do ginásio, e o boletim de ocorrência foi feito junto às autoridades competentes. O que mais cabe a entidade fazer em um caso como esse? — comentou Dione Junges.
Relembre o caso
O jogo válido pela 11ª rodada da primeira fase do Gauchão de Futsal ocorria em ginásio de Seberi, na Região Norte, quando o treinador Raphael Melo e o goleiro Léo Silva, da equipe de Frederico Westphalen, relataram à arbitragem que torcedores da Afucs gritaram xingamentos racistas atrás do gol e nas arquibancadas.
Conforme o Guarani, as ofensas aconteceram quando Silva saiu do vestiário para começar a etapa final do jogo. Por isso, a disputa foi interrompida aos nove segundos. Conforme o goleiro, o torcedor o chamou de "preto" três vezes em tom pejorativo. Na terceira vez, ele chamou o árbitro, que parou a partida.
Depois que o jogo foi interrompido, a equipe voltou para o vestiário e não houve condições de retomar o confronto. Os jogadores tomaram banho e, ao ir embora, o treinador Raphael também foi ofendido por duas pessoas que estavam na arquibancada.
Dione Junges, diretor da Afucs, afirmouque um menino de 14 anos assumiu a autoria dos xingamentos e foi retirado do ginásio.
Lei Vini Júnior
Em julho deste ano, o governador Eduardo Leite sancionou a Lei Vini Júnior, de autoria da deputada Luciana Genro (PSol), que determina a utilização de um protocolo de combate à discriminação em estádios de futebol e arenas esportivas em casos de suspeita de racismo, injúria racial ou homofobia.
De acordo com a legislação proposta, a partida deve ser interrompida até que a conduta suspeita acabe. Em caso de repetição, os atletas devem se retirar por 10 minutos. O PL ainda prevê que, se as atitudes discriminatórias forem registradas antes do jogo, o árbitro pode cancelá-lo.
— A lei é muito válida para dar suporte aos denunciantes. Contudo, baseado nessa lei, o jogo vai sempre prosseguir, né? Porque a gente retirou o autor das ofensas de campo, do ginásio, enfim, para que o evento prossiga. Mas é preciso sempre pensar: retirar esse elemento da arquibancada basta? E, psicologicamente, a vítima, ela vai ter condições de seguir o jogo? A gente precisa também proteger essa vítima para que, depois da partida, aí sim, ela possa ir, se ela quiser, até uma delegacia prestar queixa ou se um delegado possa ir até ela — destacou Marcelo Carvalho, diretor do Observatório de Discriminação Racial do Futebol.