
O Carnaval é a festa de cores transformadas em emoção e magia ao serem representadas nos desfiles das escolas de samba. Na avenida, os enredos homenageiam fatos marcantes e a cultura dos povos, mesclando o respeito à história com a liberdade artística dos criadores.
Em Passo Fundo, no norte gaúcho, vive uma das mentes por trás de grandes carnavais da Capital e do interior do RS. O figurinista, enredista e carnavalesco Ramon Gandez atua na área há 23 anos.
Suas ideias de fantasias e carros alegóricos já renderam oito vitórias no carnaval de Passo Fundo e dois vice-campeonatos no grupo especial de Porto Alegre.
O sucesso para o brilho das escolas na avenida tem três segredos: emoção, pesquisa e apoio da comunidade. Conforme Ramon, o sentimento deve aparecer assim que a estrutura do enredo é apresentada pela escola, para que o figurinista consiga transmitir a ideia através das roupas e carros, como explica:
— Artistas precisam trabalhar movidos à emoção. Se você não se apaixona pelo projeto, não vai dar certo, não vai ativar tua linguagem artística. No meu caso, eu sou apaixonado. Eu fecho meus olhos e imagino o desfile pronto e vou passando a ideia para o papel. A pesquisa me ajuda a dar o ponto final e a comunidade termina abraçando a ideia.
Primeiro trabalho aos 18 anos
Ao tentar resgatar na memória quando foi que desenhou uma fantasia pela primeira vez, Ramon lembra que desde criança tinha croquis de fantasias de carnaval como brincadeira. Pequeno, ele escolhia um samba do Rio de Janeiro que achava mais bonito e recriava todo o desfile.
A brincadeira passou a ser trabalho aos 18 anos, quando, após redesenhar a própria fantasia para desfilar no carnaval passo-fundense da escola Garotos da Batucada, foi convidado para concorrer ao cargo de carnavalesco.
O resultado não podia ser diferente: Ramon foi escolhido com unanimidade pela equipe da escola e estreou como carnavalesco em 2002.
— Sempre tive todas as formas de cultura muito presentes em casa, seja músicas, exposições, museus, carnavais, e minha mãe me incentivava muito. Foi ela que me levou para desfilar pela primeira vez, quando eu redesenhei a roupa e chamei a atenção da escola, que me convidou pra fazer parte do time — relata Ramon.
A experiência profissional foi fundamental para Ramon escolher seguir carreira como artista. Formado em Artes Visuais e especialista em História da Arte, ele atua hoje como arte-educador, artista plástico, cenógrafo, carnavalesco e figurinista — atividades que concilia com o mestrado em Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Das ideias ao resultado

As fantasias e carros alegóricos criados por Ramon precisam estar conectados com a ideia do enredo escolhido pela escola. É em cima deste “recorte” de tema, que são definidos os assuntos que cada carro e ala devem representar.
Depois da aprovação é que Ramon começa a buscar as referências e rabisca os primeiros figurinos.
— Precisamos respeitar o tema pois cada detalhe conta ponto. Por exemplo, na ala das baianas busco referências do século que devemos falar, para que tudo esteja conforme os trajes da época. O mesmo para as alegorias. Ao longo do ano, acompanhamos de perto o trabalho das costureiras e serralheiros para adaptarmos, caso precise.
A sintonia entre o visual, música e o tema escolhido é o que coroam uma boa apresentação e transmitem a magia do carnaval ao público. A cada carnaval, um novo assunto é escolhido para levar ainda mais cor à avenida e manter a tradição da festa popular.
Saudade do carnaval de Passo Fundo
Com o começo da carreira em Passo Fundo, Ramon foi responsável pelos desfiles de diferentes escolas. Com saudosismo, ele define dois de seus carnavais favoritos:
— Eu tive momentos muito especiais com as escolas, mas posso destacar dois: em 2008 em Passo Fundo, pela Bom Sucesso, fomos bicampeões com um desfile sobre o povo negro que fiz com requisitos muito redondos e alegorias bem acabadas. Em 2014 pela Bambas da Orgia, quando falamos da rainha Njinga da Angola e deixamos a avenida com a certeza que seríamos pentacampeões.
Agora trabalhando no Carnaval da Capital, Ramon vai representar a escola Unidos da Vila Mapa, do grupo Prata, com desfile em 15 de março.
Feliz com o trabalho, ele segue na torcida pelo retorno dos desfiles em Passo Fundo, que foram cancelados neste ano.
— A gente não tem desfile oficial, nos moldes de concurso, desde 2016. Ficamos tristes e sempre na esperança de que no próximo ano terá. Não podemos deixar cair no esquecimento total, é preciso manter a fagulha acesa. Se retornarmos, estarei disposto de abraçar alguma escola — resume.
Exposição em Passo Fundo

Alguns dos croquis criados por Ramon estão em exposição até esta terça-feira (4) no Bella Città Shopping.
Na mostra, o artista passo-fundense apresenta esboços de 10 figurinos, de sua própria autoria, confeccionados para a Sociedade Cultural e Beneficente Acadêmicos de Gravataí, do Grupo Especial de Porto Alegre.