Não se espante! A declaração é de um dos pensadores mais influentes do século XX, Jacques Lacan. Aos incrédulos ofereço o original francês: "la-femme n'existe pas". Os franceses, quando negam, negam pra valer, negam duas vezes, negam antes do verbo (ne ou n' ) e negam depois do verbo (pas). A segunda negação é mais forte que a primeira. Os francófonos sentem a negação quando estala o "pas". "Pas" soa como "pá", uma explosão. A dupla negação não nos é estranha. Se me recuso a ir terminantemente a algum lugar, digo: "não vou lá não". Os categóricos chegam a negar três vezes a mesma coisa: "nunca ninguém jamais viu coisa igual". O que é fixo em francês é optativo em português. Negamos dupla ou triplamente de acordo com a situação. Não há necessidade de dizer: "a mulher não existe não", afirmar: "a mulher não existe", já é suficientemente enfático.
Opinião
Donaldo Schüler: a mulher não existe
Filósofo, escritor e tradutor