Crise da segurança pública é um termo bastante em voga. Preferencialmente empregado em referência ao aumento da criminalidade, sem menção aos problemas relacionados à atuação policial.
Na madrugada do dia 14, Vilmar Mattiello foi morto a tiros disparados por um policial militar. As provas poderão indicar o contrário, mas, com base nas informações ora disponíveis, é possível afirmar, no mínimo, que houve excesso.
Cumpre indagar se foram necessários os disparos? Há a versão de que houve risco à integridade física do atirador, o que caracterizaria a legítima defesa. Mas, quando algo é arremessado contra alguém, a reação instintiva é o esquivo. Como então, em milésimos de segundo, poderia efetuar disparos precisos, de resto sabedor que, atingido o condutor, o automóvel, agora descontrolado, se precipitaria em sua direção? Não seria suficiente, portanto, a continuidade da perseguição até a parada do veículo?
Se Vilmar violou regras, que lhe fossem aplicadas as respectivas sanções penais e administrativas. Não havia qualquer fundamento jurídico para tirar-lhe a vida! Morte por resistência cheira a mofo autoritário.
E se Vilmar estivesse sequestrado, sob a mira de uma arma? E se estivesse socorrendo um terceiro? E se pensasse se tratar de um assalto? Nada disso foi cogitado pelo atirador? Não dispõe ele da técnica necessária para enfrentamento dessas situações?
E se, após ferido Vilmar, o carro atingisse algum transeunte? Ainda assim seria válida a ação policial? Dispõem os policiais de alguma espécie de salvo conduto para "atirar e perguntar depois" ou do poder de vida e morte sobre qualquer cidadão, basta que "suspeito"?
Somente o que se espera é a apuração escorreita dos fatos, com a punição adequada e proporcional daqueles que vitimaram Vilmar, além de ampla discussão sobre determinadas práticas policiais. Para que a sociedade não passe a temer também os policiais. Ou pelo menos em respeito à memória de Vilmar e à dor dos familiares e amigos atingidos por sua morte injustificada, abrupta e violenta.