Homem de fé, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, estava tão certo da impunidade que registrou para si o domínio jesus.com na internet. Não contente, criou uma empresa chamada Jesus.com. Sem medo do castigo divino por desobedecer ao segundo mandamento, registrou três carros de luxo em nome da Jesus.com (um Porsche Cayenne, uma Ford Edge e um Ford Fusion). Usou o nome de Deus em vão e foi flagrado pelos procuradores da República desrespeitando as leis dos homens.
Com a investigação que ameaça implodir sua carreira política, ruiu um mundo de viagens internacionais, carros de luxo e dinheiro farto, guardado na Suíça. Como o diabo mora nos detalhes, são eles que dão à queda de Cunha o tom de pastelão. Sua mulher, a jornalista Claudia Cordeiro Cruz, apresentou-se como dona de casa na hora de abrir uma conta na Suíça. Os investigadores apuraram que a empresa dela, a C3 Produções, tinha pelo menos quatro carros de luxo (Pajero, Hyundai Tucson, Freelander e BMW). Em nome de Claudia pessoa física está registrado outro Porsche Cayenne.
A apresentação das provas de que as contas na Suíça contêm sua assinatura e foram abertas com documentos dele e da mulher, mais a citação de uma de suas filhas no imbroglio, provocou a ira de Cunha, que reclama de quebra do sigilo bancário e acusa o procurador-geral da República de perseguição política. Em nota distribuída por sua assessoria de imprensa, o deputado nega ter contas no Exterior, diz que nunca recebeu dinheiro por intermediar negócios na Petrobras e acusa o procurador de tramar para enfraquecê-lo às vésperas do anúncio da decisão sobre pedidos de abertura de um processo de impeachment.
Nocauteado pela Operação Lava-Jato, Cunha não tem a mínima condição para conduzir um processo de impeachment. Se estava negociando com emissários do governo um acordo de mútua proteção, o vazamento dos documentos implodiu as pontes. Seria muita ingenuidade acreditar que o governo poderia poupá-lo: a investigação está nas mãos de um grupo de procuradores e de policiais federais sobre os quais o Planalto não tem controle.
Aberta a porteira, as denúncias brotam de todos os lados. A delação premiada de Fernando Baiano é só mais uma frente de investigação.
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Opinião
Rosane de Oliveira: detalhes implodem o mundo de Cunha
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Rosane de Oliveira
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