A complacência dos principais líderes do PSDB e de outros partidos de oposição com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem nome: interesse. Como precisam dele para levar adiante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, os tucanos e líderes do DEM e do PPS vinham exercendo até aqui a conhecida indignação seletiva e fazendo olho branco para as contas de US$ 5 milhões de Cunha na Suíça.
Contas atribuídas a Cunha na Suíça somam quase US$ 5 milhões
Assim que vieram à tona as informações sobre as contas secretas, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), declarou que o presidente da Câmara tem "o benefício da dúvida a seu favor". O senador Aécio Neves, que dá entrevistas diárias batendo no governo, se fez de morto. Ele, que em agosto defendera o afastamento de Cunha caso o Supremo Tribunal Federal aceitasse a denúncia contra ele, foi econômico ao tratar das contas na Suíça, como se fossem uma questão menor.
- O que o líder Carlos Sampaio disse é que está aguardando as provas documentais para confirmação das denúncias, que não quer se antecipar à condenação. Ninguém vai defender ninguém se isso acontecer.
Com a confirmação do Ministério Público suíço de que Cunha foi avisado do bloqueio das contas, a barreira de proteção começou a ruir. Declarações de dois líderes do PSDB indicam uma visão utilitária do papel de Cunha. Sabem que ele cairá atirando e que, quanto mais tempo resistir, mais estragos fará no frágil alicerce que ainda sustenta o governo Dilma.
- Até quando vai resistir, ninguém sabe. Mas que vai cair, vai e levando gente junto -disse o senador Tasso Jereissati (CE).
- Quando os meninos veem um filme de terror e sabem que alguém vai morrer, dizem, fulano é carne morta. Cunha é carne morta. Tomara que leve alguns pesos que serão bem levados - reforçou o ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman, vice-presidente nacional do partido.
Sampaio já teria comunicado a Cunha que o PSDB abandonará a defesa dele se aparecerem extratos ou comprovantes de contas no Exterior. Neste caso, a sugestão do PSDB é de que ele renuncie à presidência para cuidar da defesa.
Operação Lava-Jato
Rosane de Oliveira: Cunha e a indignação seletiva da oposição
Leia a abertura da coluna Política+ desta quarta-feira em ZH
Rosane de Oliveira
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