Quase uma semana depois de ser agredido por vigilantes em frente a um supermercado no bairro Floresta, em Porto Alegre, o morador de rua Edson Luis Christ Wahlbring, 25 anos, retomou quase normalmente à rotina. Em meio a manifestações de solidariedade de conhecidos da região e entrevistas, Alemão - como é conhecido - ainda exibe marcas da agressão e relata dores nas costelas e em uma das pernas.
Alemão ficou conhecido por aparecer em imagens de câmeras de segurança sendo espancado por três vigilantes. Dois deles utilizam cassetetes, e um terceiro apenas observa. Os agressores eram funcionários terceirizados de uma igreja Assembleia de Deus, localizada na rua General Neto, a 200 metros do supermercado.
"Não é pela dor física, mas por dentro, por não terem respeito com morador de rua. Quero ver eles fazerem isso com o gerente do supermercado, com um delegado. Não fazem isso com outras pessoas, mas com morador de rua é fácil", desabafa Edson.
Os vigilantes estariam em busca do autor do furto de um corrimão da igreja, no sábado (31). Naquele dia mesmo, o trio encontrou o morador de rua. Edson Luis nega a autoria do furto. Usuário de crack, ele afirma que consegue viver com a reciclagem e de esmolas que admite pedir.
"Até peço dinheiro, mas roubar não. Pode perguntar para quem me conhece aqui na região", garante.
O morador de rua afirma já ter sido ameaçado pelos vigilantes em outras oportunidades, mas agressão foi a primeira vez. Por isso, pede justiça.
"Não guardo rancor, mas eles merecem ir para a cadeia. Isso não foi lesão corporal, foi tentativa de homicídio", diz Edson.
A Igreja Assembleia de Deus confirma que é a contratante da empresa de vigilância onde trabalham os agressores. O contrato com a Securi Clean, de Santa Maria, foi firmado há cerca de um ano. Segundo o advogado da igreja, Jurandi Pazzim, o serviço foi rescindido tão logo tomaram conhecimento do episódio.
"A igreja está escandalizada. Estamos há 93 anos em Porto Alegre, fazemos obras sociais e isso foi algo muito grave, que não poderia ter ocorrido", diz o advogado da Assembleia de Deus.
A igreja confirma que houve o furto de um corrimão no sábado (31), mas que os vigilantes agiram por conta própria na busca de suspeitos. A Rádio Gaúcha tentou contato com a Securi Clean, mas ninguém atendeu aos telefonemas nessa manhã.