A fabricante gaúcha de armas Taurus é acusada de vender armamento para um traficante internacional de armas do Iêmen. A denúncia foi oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) à Justiça Federal do Rio Grande do Sul. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira (5) pela agência de notícias Reuters, que teve acesso exclusivo a documentos judiciais sobre o caso.
Segundo a agência, o iemita Fares Mohammed Mana'a também foi denunciado. Ele está listado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um dos maiores traficantes internacionais de armas.
Dois ex-executivos da empresa gaúcha são acusados de enviar 8 mil pistolas e revólveres de uso exclusivo das forças policiais para Mana'a. De acordo com a investigação, as armas foram supostamente enviadas pela Taurus para o Djibuti, país do nordeste da África, e redirecionadas para o Iêmen por Mana'a.
O país está na lista de países sob embargo da ONU desde 2014 e também do governo dos Estados Unidos. Devido ao embargo, o Iêmen não pode receber armas de nenhum porte.
A Justiça Federal do RS confirma a existência da ação penal, mas não dá detalhes em razão de tramitar em segredo de Justiça. Os procuradores afirmam que o ex-gerente de exportação da empresa Eduardo Pezzuol e o ex-supervisor de exportação Leonardo Sperry fecharam, em 2013, a venda de 2 milhões de dólares em armas para o traficante internacional.
No ano passado, eles negociavam uma segunda entrega, desta vez de 11 mil pistolas e revólveres, quando foram surpreendidos por uma investigação da Polícia Federal.
A Taurus não foi denunciada. O MP concentra o processo, por enquanto, nos dois ex-executivos da empresa que comandaram as negociações.
A procuradora da República Fabíola Dörr Caloy é quem está à frente da ação. Através da assessoria de imprensa, se limitou a dizer que o processo está no início e que é sigiloso. O MPF deve divulgar nesta terça-feira (6) uma nota.
A Rádio Gaúcha tenta a posição dos ex-executivos da empresa.
Confira a íntegra da nota divulgada pela Taurus:
A Forjas Taurus S.A. (“Companhia” ou “Taurus”) listada no Nível 2 da BM&FBOVESPA (Símbolos: FJTA3, FJTA4), em virtude de notícias divulgadas na mídia, nesta data, relacionadas à existência de ação penal contra terceiros sobre suposta venda irregular de armas pela Companhia, vem prestar os seguintes esclarecimentos aos seus acionistas e ao mercado em geral. Conforme veiculado pela mídia, existe uma ação penal que tramita sob segredo de Justiça na 11ª Vara Federal de Porto Alegre, contra dois ex-funcionários da Companhia e um cidadão iemenita, por suposta venda irregular de armas, no ano de 2013, para o Governo do Djibouti, cujo destino final seria o Iêmen. Embora a Companhia e seus administradores não sejam partes no processo, tão logo a Companhia tomou conhecimento da ação penal, potencialmente lesiva à sua reputação, requereu e teve deferida sua habilitação no processo, na condição de interessada, com o objetivo de bem esclarecer ao juízo sobre os fatos de seu conhecimento e prestar o apoio necessário nas investigações.
A Companhia informa que a referida exportação de armas leves e de uso civil foi realizada para o Governo do Djibouti, tendo sido observados todos os procedimentos legais aplicáveis e obtidas todas as autorizações e licenças necessárias à época para a efetivação da operação. Não havia e não existe hoje qualquer tipo de restrição ao comércio com o Djibouti. Após tomar conhecimento das suspeitas levantadas em torno do cidadão iemenita que intermediou a negociação com o Governo do Djibouti, a Companhia, por medida de cautela: (i) cancelou qualquer tipo de negociação com o Djibouti; (ii) determinou a retenção da mercadoria em trânsito, e (iii) mediante comunicação oficial, colocou à disposição do Governo do Djibouti o valor recebido correspondente à mercadoria retida.
A Companhia reforça, como parte interessada, que está prestando todos os esclarecimentos e fornecendo todos os documentos pertinentes.
Como a ação penal tramita em segredo de justiça, a transcrição na notícia veiculada de partes da denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal implica em violação de sigilo, devendo ser apurada em procedimento próprio, pois os fatos tais como apresentados ainda dependem de apuração e comprovação. A Taurus fabrica armas, no Brasil, há mais de 75 (setenta e cinco) anos, e está enquadrada pela legislação local como Empresa Estratégica de Defesa, tendo dedicado Grande parte da sua produção para o mercado externo, atendendo ao sistema regulatório e de fiscalização vigente no Brasil. Nessa condição, a Taurus repudia veementemente a alegação de que estaria envolvida em qualquer operação irregular na comercialização de seus produtos.