O rádio muda a cada dia. A velocidade das transformações é alucinante, assim como o ritmo dos produtos que são oferecidos a cada momento na internet. No entanto, a forma de fazer jornalismo - a partir das premissas do "lead" (abertura do texto, que reúne as informações mais importantes) e do “faro” do repórter, continuam as mesmas. A maior diferença é a quantidade de ferramentas que temos à disposição.
Assim, em uma manhã de sábado, iniciando um plantão às 6h, chegou a informação sobre uma confusão em barreira da Brigada Militar na zona sul da capital. Um policial civil estaria dirigindo uma viatura discreta com sinais de embriaguez. Ele teria se negado a fazer o teste do bafômetro. E isso era tudo o que tínhamos. Ao saber da história, eu e o motorista Thomaz Edson fomos ao Palácio da Polícia, onde, provavelmente, o caso teria sido encaminhado.
Chegando ao local, havia alguns casos de motoristas que, por desconhecerem o perigo, haviam sido pegos em blitze ou se envolvido em pequenos acidentes. Todos com suspeita de embriaguez, todos com o direito constitucional de não se submeter ao bafômetro. No entanto, o caso que nos interessava não estava ali. Dei a volta no prédio, que ocupa um quarteirão inteiro, para conferir a situação no Departamento Médico Legal (DML), para onde casos envolvendo bebidas e direção são levados. Aí começamos a encontrar alguma coisa.
O soldado que havia atendido a ocorrência estava em frente ao órgão e relatou o que teria acontecido. Falou rapidamente, já que o caso estava em andamento. Ele voltou para dentro do DML. Poucos minutos depois, saiu um homem caminhando a passos lentos pela porta principal. Não chamou a atenção de ninguém. Em alguns segundos, o mesmo soldado saiu em perseguição, solicitando seu retorno. É ignorado.
A partir do momento em que o brigadiano elevou a voz, percebi que algo poderia acontecer em seguida. Saquei o Iphone e comecei a gravar um vídeo. No momento, embora rápido, pensei que, se houvesse um enfrentamento, algum contato físico mais forte, um vídeo descreveria melhor a cena do que uma foto ou uma gravação de áudio. E assim foi. Pressionei o "REC" e comecei a acompanhar a dupla. Não houve briga, mas resistência e uma tentativa de deixar o local por parte do suspeito. O enfrentamento de um policial militar com um civil deu peso às imagens.
“ Quem fez o vídeo foi um repórter de rádio que, no início deste século, provavelmente se importaria apenas em um bom posicionamento para relatar a situação nos 93,7 FM e nos 600 AM”
Editei o material no próprio telefone e enviei à redação da rádio. Mostrei as cenas para o pessoal da RBSTV, que chegou logo após a confusão. Encaminhei as imagens, que acabaram sendo utilizadas no Jornal do Almoço. Mais tarde, com a repercussão do fato, o Jornal Nacional e os noticiários da GloboNews também reproduziram o vídeo.
O caso foi considerado uma mudança de paradigma. Não apenas pelo conteúdo, mas pela origem. Quem fez o vídeo foi um repórter de rádio que, no início deste século, provavelmente se importaria apenas em um bom posicionamento para relatar a situação nos 93,7 FM e nos 600 AM. Isso mostra as transformações e a velocidade das mudanças citadas no início do texto. O repórter sempre tenta levar a informação da maneira mais completa possível e da forma que cause mais impacto na vida de quem a consome, isto é, o ouvinte. A partir da convergência midiática, isso passou a ser possível.
A preocupação com vídeos, textos para o site, fotos e, ainda, com a trivial manchete, dá mais trabalho. Mas, também, propicia ao ouvinte uma cobertura mais ampla dos fatos.
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