As temperaturas permaneceram em níveis historicamente elevados em março, o que prolonga uma onda planetária de calor de quase dois anos, informou nesta terça-feira (8) o programa europeu de observação climática Copernicus.
Com a média de 14,06°C, março de 2025 foi apenas 0,08°C mais frio que o recorde registrado em março de 2024 e levemente mais quente do que o mesmo mês de 2016, segundo o Copernicus.
Os dois episódios anteriores ocorreram durante um momento intenso do fenômeno El Niño, enquanto 2025 registra o fenômeno La Niña, a fase oposta do ciclo, sinônimo de uma influência de resfriamento.
Na Europa, foi o mês de março mais quente já registrado, segundo o boletim mensal do observatório climático.
No conjunto do planeta, este foi o segundo março mais quente nos registros do Copernicus, o que confirma uma sequência mensal de calor recorde ou quase recorde iniciada em julho de 2023.
Desde então, cada mês foi pelo menos 1,5ºC mais quente do que a média antes da revolução industrial, quando a humanidade começou a queimar carvão, petróleo e gás em larga escala.
A temperatura de março ficou 1,6ºC acima da era pré-industrial, prolongando um clima tão extremo que os cientistas ainda tentam encontrar uma explicação.
"Que ainda estejamos 1,6ºC acima da era pré-industrial é realmente notável", afirmou Friederike Otto, especialista do Instituto Grantham de Mudança Climática do Imperial College de Londres.
"Estamos firmemente nas mãos da mudança climática provocada pelos humanos", declarou à AFP.
"Continuamos com temperaturas extremamente altas", afirmou Robert Vautard, copresidente do grupo de trabalho sobre climatologia do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
"É uma situação excepcional", afirma à AFP, "porque normalmente as temperaturas diminuem claramente após dois anos de El Niño", o fenômeno natural que eleva temporariamente as temperaturas mundiais e cujo último episódio remonta a 2023-2024.
"Devemos, no entanto, evitar reagir de forma exagerada a flutuações ou ausências de flutuações, e aguardar explicações sobre os fenômenos que podem ter se sobreposto ao aquecimento provocado pela humanidade", alerta Robert Vautard, pois as temperaturas estão "sujeitas a importantes variações naturais interanuais ou decenais".
- Bilhões de medições -
Os cientistas alertam que cada fração de grau de aquecimento global aumenta a intensidade e frequência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, chuvas fortes e secas.
O calor mundial fez de 2023 e 2024 os anos mais quentes já registrados.
O programa Copernicus da UE utiliza bilhões de medições de satélites, navios, aviões e estações climáticas para fazer seus cálculos.
Os registros datam de 1940, mas outras fontes de informação climática permitem aos cientistas ampliar suas conclusões com o uso de evidências muito anteriores.
Segundo o IPCC, o mundo está a caminho de superar de forma duradoura o limite de 1,5°C no início da década de 2030. Ou até mesmo antes do fim da década, segundo estudos recentes.
Os cientistas afirmam que o período atual pode ser o mais quente na Terra nos últimos 125.000 anos.
* AFP