As Nações Unidas instaram nesta quarta-feira (16) a comunidade internacional a agir para evitar um "pesadelo humanitário" no Sudão do Sul, onde uma "espiral" de violência está mergulhando o país em "uma das piores" situações humanitárias desde sua independência em 2011.
Nas últimas semanas, "houve um acentuado deterioro da situação política e de segurança, que ameaça desfazer os avanços em direção à paz conquistados nos últimos anos", afirmou Nicholas Haysom, chefe da Missão da ONU no Sudão do Sul (Unmiss), no Conselho de Segurança, onde alertou para o risco de "uma recaída em um conflito generalizado".
"Neste contexto deplorável, estamos recebendo relatos de uma nova mobilização", tanto das forças armadas sul-sudanesas quanto do Exército Branco, milícia acusada pelo governo de colaborar com o primeiro vice-presidente, Riek Machar, ex-rebelde detido em março, acrescentou.
A detenção de Machar por forças leais ao presidente Salva Kiir representou uma escalada que aproxima o país de um novo conflito, quase sete anos após o fim de uma devastadora guerra civil.
A isso se somam "os efeitos da guerra no vizinho Sudão, o colapso econômico, as condições meteorológicas extremas e uma forte queda na ajuda internacional", que contribuem para que "o Sudão do Sul enfrente uma das piores perspectivas humanitárias desde sua independência", alertou.
Cerca de 9,3 milhões de pessoas - três quartos da população - precisam de ajuda humanitária, e 7,7 milhões sofrem de grave insegurança alimentar, além de enfrentarem uma epidemia de cólera com quase 50 mil casos e cerca de 900 mortes.
Além disso, aproximadamente 130 mil pessoas foram deslocadas pelos recentes episódios de violência. Muitas delas cruzaram para a Etiópia, segundo Edem Wosornu, do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha).
"Se a crise política não for contida, o pesadelo humanitário se tornará realidade muito rapidamente", alertou Haysom, antes de lembrar que a capacidade de ação dos trabalhadores humanitários foi reduzida devido a cortes massivos de financiamento, em especial dos Estados Unidos.
"Diante desse cenário tão preocupante, devemos aproveitar a oportunidade para evitar um pesadelo humanitário, com uma recaída em um conflito generalizado. Isso requer uma ação urgente, coordenada e decisiva em muitos níveis por parte de atores nacionais e internacionais", defendeu, pedindo em particular o cessar imediato das hostilidades, a proteção dos civis e apoio econômico.
* AFP