
O peso argentino se desvalorizou 11% na abertura dos mercados nesta segunda-feira (14), segundo o Banco Nación, após o anúncio na sexta-feira da liberação parcial dos controles cambiais que vigoravam desde 2019.
A moeda abriu cotada a 1.190 por dólar, frente aos 1.097 de sexta-feira, segundo o maior banco estatal argentino, como reação ao fim das restrições à compra de moedas estrangeiras anunciado pelo governo após obter o respaldo do Fundo Monetário Internacional, com um empréstimo de US$ 20 bilhões. Perto do horário de fechamento, porém, a moeda americana já valia 1.233 pesos.
A implementação do novo esquema coincide com a visita do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, que se reunirá com o presidente Javier Milei na tarde desta segunda, após o que se espera uma declaração conjunta.
— Não existe mais dólar oficial, há um único dólar, que é o de mercado — comemorou Milei em entrevista à rádio El Observador, lembrando que o fim dos controles cambiais foi uma promessa de sua campanha eleitoral.
Fim do "cepo cambiario"
A eliminação do chamado “cepo”, que limitava a compra de divisas por pessoas físicas a US$ 200 mensais, acontece após semanas de crise cambial em que o Banco Central teve que vender mais de 2 bilhões de dólares para sustentar a moeda.
O antigo sistema multiplicava por cinco os tipos de câmbio e fomentava um mercado clandestino.
A mudança anunciada na sexta-feira prevê que a cotação da moeda passará a flutuar conforme oferta e demanda, com um piso de 1.000 pesos por dólar e um teto de 1.400 pesos. O Banco Central poderá intervir para manter a cotação dentro dessas bandas.
— É preciso reduzir um pouco a expectativa para este primeiro dia. Estamos preparados, mas isso será um processo — afirmou nesta segunda-feira Santiago Furiase, membro do conselho do Banco Central, ao canal LN+.
Se o peso atingir o teto da banda, isso implicará uma desvalorização de 30%.
"O problema acabou"
A partir desta segunda-feira, as pessoas físicas, que antes só podiam comprar até US$ 200 por mês, agora podem adquirir uma quantidade ilimitada de dólares por meio de operações bancárias, e um máximo de US$ 100 (R$ 584) em dinheiro vivo. As pessoas jurídicas, ao contrário, precisam esperar até 2026 para enviar dividendos para o exterior.
Enquanto isso, na rua Florida, no centro de Buenos Aires, onde tradicionalmente os dólares são comercializados no mercado paralelo, não eram vistos, na manhã desta segunda, os muitos cambistas informais que costumam oferecer "Câmbio, câmbio!" aos pedestres.
— Todo mundo está esperando para ver o que vai acontecer — disse um deles à AFP, sem querer se identificar.
O governo usou a fixação da cotação do dólar como âncora das expectativas de inflação. As novas medidas geram dúvidas sobre seus efeitos nos preços.
O controle da inflação é o principal capital político do presidente ultraliberal, que este ano ele passará por seu primeiro teste eleitoral nas legislativas de outubro.
O rigoroso plano de austeridade do presidente, com ajustes drásticos nas aposentadorias, na educação e na saúde, levou a uma queda da inflação de 211% em 2023 (quando o peso foi desvalorizado em 52%) para 118% no ano passado.
No entanto, a desaceleração do aumento do custo de vida perdeu força em fevereiro, quando registrou 2,4%, subindo para 3,7% em março passado. Mas o presidente Milei prometeu que "em meados do ano que vem, acabou o problema da inflação na Argentina".
Furiase também minimizou o impacto inflacionário do novo regime cambiário.
— As pessoas vão levar um tempo (para se acostumar), estão há anos com o chip de que a cada vez que o dólar sobe, associa-se à inflação — disse.
— Certamente, a cotação vai ter uma reação inicial, mas em seguida será uma trajetória rumo ao piso da banda — especulou.