Fiéis do mundo inteiro se despediram pela última vez do papa Francisco na manhã deste sábado (26), em cerimônia acompanhada por mais de 250 mil pessoas e mais de 150 delegações estrangeiras na Praça São Pedro.
O rito teve início às 10h no Vaticano (5h no horário de Brasília), com um coral cantando ritos em latim, e foi encerrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em um ato fechado, sem a presença de fiéis, após cortejo fúnebre por um percurso de 5,5 quilômetros.
O enterro ocorreu às 13h30min locais (8h30min no horário de Brasília) durante uma cerimônia íntima presidida pelo cardeal camerlengo Kevin Farrell, na presença de familiares do jesuíta argentino, informou o Vaticano. Este é o primeiro sepultamento de um pontífice fora do Vaticano desde Leão XIII em 1903.
Cerca de 50 chefes de Estado participam do funeral. Entre eles, estão o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o presidente da Argentina (terra natal de Francisco), Javier Milei, e 10 monarcas.
Sob aplauso de milhares de fiéis, o caixão com o corpo do papa Francisco foi conduzido até o altar da Praça São Pedro, onde o cardeal italiano Giovanni Battista Re deu início à Missa das Exéquias. Perto do altar ficaram 220 cardeais e 750 bispos, além de aproximadamente 4 mil padres.
Battista Re chamou Francisco de "um papa do povo, de coração aberto a todos".
— Nesta majestosa Praça de São Pedro, onde o papa Francisco celebrou tantas vezes a Eucaristia e presidiu a grandes encontros ao longo destes 12 anos, encontramo-nos reunidos em oração à volta dos seus restos mortais com coração triste, mas sustentados pelas certezas da fé que nos garante que a existência humana não termina no túmulo, mas na casa do Pai, numa vida de felicidade que não terá o caso — disse o cardeal.
O cardeal também destacou o fato de Francisco ter defendido, durante o seu papado, que a Igreja deveria acolher os fiéis sem julgá-los:
— Ele foi movido pela convicção de que a Igreja é um lar para todos, um lar com suas portas sempre abertas... uma Igreja capaz de se curvar diante de cada pessoa, independentemente de suas crenças ou condições, e curar suas feridas.
Outra das lutas do Pontífice, que o decano dos cardeais recordou, também repercutiu fortemente na praça, enquanto os Estados Unidos tentam chegar a um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia, em guerra desde fevereiro de 2022.
— O papa Francisco constantemente levantava a voz, implorando pela paz e pedindo bom senso e negociação honesta para encontrar soluções possíveis (para as guerras) — enfatizou o cardeal, sob aplausos do público.
Depois da missa, o caixão de Francisco foi erguido para uma última saudação e foi conduzido para o interior da basílica. Ele foi abençoado e seguiu para o cortejo pelas ruas de Roma.
O papamóvel fez o percurso em velocidade reduzida para possibilitar que os fiéis presentes no Vaticano se despedissem do Pontífice. Entre os pontos do trajeto antes de chegar à Basílica de Santa Maria Maggiore, o cortejo passou em frente ao Coliseu.
O conclave para a escolha do novo pontífice deve ser realizado nas próximas semanas. O Vaticano descartou anunciar por enquanto a data de início do processo, no qual 120 cardeais escolherão quem assumirá a posição.
O argentino Jorge Mario Bergoglio foi o primeiro latino-americano a liderar a Igreja Católica. O seu pontificado teve início em 2013, com a renúncia do antecessor, Bento XVI.
O legado de Francisco
Papa Francisco deixa como legado uma Igreja de perfil menos conservador, mais inclusiva e ecumênica em comparação a seus antecessores.
A busca por simplicidade e paz se tornou nítida desde a escolha do nome, referência a São Francisco de Assis.
O Pontífice procurou abrir as portas das igrejas a populações marginalizadas, como gays, pobres e migrantes, e fortalecer canais de diálogo com outras confissões religiosas.
Durante os 12 anos em que esteve à frente da Igreja Católica, realizou um número recorde de canonizações e nomeou 80% dos atuais cardeais com direito a voto no conclave que vai eleger o seu sucessor.
Funeral mais simples
Em 2024, o papa Francisco simplificou o próprio velório, definindo que será enterrado em um caixão simples de madeira. Ele renunciou a uma prática secular, segundo a qual o chefe da Igreja é enterrado em três caixões interligados feitos de cipreste, chumbo e carvalho.
O argentino será enterrado fora do Vaticano, pela primeira vez em mais de um século. O Papa optou pelo enterro na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, em vez da Basílica de São Pedro, que abriga mais de 90 papas. O local escolhido é uma imponente igreja do século 5, localizada no centro de Roma, onde sete pontífices já foram sepultados.
Outra abolição foi o uso de uma plataforma elevada na Basílica de São Pedro para o velório, como foi feito com os pontífices anteriores. Os fiéis são convidados a prestar as suas homenagens enquanto o corpo de Francisco fica dentro do caixão, com a tampa aberta.
As instruções estão no Ordo Exsequiarum Romani Pontificis, aprovado em 29 de abril de 2024 pelo próprio papa Francisco, que recebeu o primeiro exemplar em 4 de novembro.