Uma comissão parlamentar francesa recomenda a regulamentação rigorosa de convocações de elenco e o acompanhamento constante dos menores que fazem sua estreia no cinema para combater a violência sexual, após vários casos de grande repercussão nos últimos anos.
No total, são cerca de 90 recomendações para deter a "destruição de talentos" que o mundo do entretenimento pode representar, de acordo com as conclusões.
A criação dessa comissão foi decidida no ano passado na Assembleia Nacional francesa após o escândalo causado pelas acusações da atriz Judith Godrèche, que foi descoberta e depois fez parceria durante anos com um diretor de cinema, Benoît Jacquot, mesmo sendo menor de idade.
Os eventos remontam à década de 1990. Godrèche acusou em 2024 Jacquot e outro diretor, Jacques Doillon, de a terem estuprado e abusado dela durante aqueles anos, quando era menor de idade.
Esse episódio já foi precedido por graves acusações contra estrelas conhecidas do cinema francês, como Gerard Depardieu e o diretor Luc Besson.
No caso Depardieu, as acusações de várias mulheres seguem no curso judicial.
O "caso Godrèche" provocou uma enorme onda de choque, com acusações que continuam surgindo regurlamente em todas as áreas da cultura francesa, do mundo literário à mídia, à publicidade e às artes cênicas.
A comissão, que publicará oficialmente seu relatório nesta quarta-feira (9), constata que "as violências morais, sexistas e sexuais no âmbito cultural são sistêmicas, endêmicas e persistentes", de acordo com um texto obtido pela AFP.
"Em nosso país existe um culto ao talento e ao gênio criativo", explicou à AFP Erwan Balanant, deputado centrista e relator da comissão. "E esse gênio criador tem uma espécie de permissão para criar sua obra, o que para alguns seria mais importante que as regras da nossa República".
o texto solicita "estabelecer o princípio da proibição da sexualização de menores" na tela e nas fotografias de modo, bem como "regulamentar" as audições, "lugares perigosos por definição", impondo que sejam realizadas em instalações profissionais e excluindo cenas de nudez.
"Muitos diretores de elenco e gerentes se aproveitam da extrema vulnerabilidade de atores e atrizes para obter favores sexuais, sejam eles voluntários ou forçados", afirma o relat´roio.
A comissão também recomenda estender a presença obrigatória de um responsável pela criança a todas as produções artísticas, algo opcional até pouco tempo na França.
Para os adultos, recomenda controlar as cenas de intimidade mediante "cláusulas detalhadas no contrato" e dar aos atores, a oportunidade de recorrer a um coordenador especializado e treinado, uma profissão ainda emergentena França.
Durante as audiências, a comissão ouviu depoimentos de estrelas como a própria Judith Godrèche e a atriz Sara Forestier, que descreveram as "ameaças" que sofreram dos diretores.
* AFP