O papa Francisco morreu, aos 88 anos, na madrugada desta segunda-feira (21) em sua residência oficial, na Casa Santa Marta, no Vaticano. A notícia pegou a cidade natal do pontífice, Buenos Aires, na Argentina, de surpresa.
— Buenos Aires acordou mais cinzenta na manhã dessa segunda-feira. Foi uma surpresa porque a cidade acompanhava o pronunciamento do papa no domingo de Páscoa e se via circulando por aqui comentários nas ruas, nos jornais, de que o papa teria superado mais uma batalha — destaca a jornalista Sara Bodowsky, direto da capital da Argentina.
Os argentinos estão concentrando homenagens em frente à Catedral Metropolitana de Buenos Aires, junto à Praça de Maio. Uma missa de despedida, conduzida pelo arcebispo Jorge García Cuerva, foi realizada. Essa foi a primeira entre outras previstas para ocorrer ainda nesta segunda-feira (21).
Uma vela foi acesa em frente ao espaço religioso por um fiel por volta das 7h da manhã, logo após a notícia do falecimento. No local, destaca-se também a presença de muitos fiéis jovens e lembranças relacionadas ao clube de futebol San Lorenzo, do qual Francisco era torcedor.
— Em um país bastante dividido, apesar das divergências com o governo argentino, o papa ainda era um ponto de diálogo e um ponto de contato — pontua Sara.
Apesar das divergências políticas, o presidente Javier Milei reconheceu a importância do pontífice e decretou luto de sete dias no país.
Quem foi o papa Francisco

Francisco nasceu em 17 de dezembro de 1936 no bairro portenho de Flores. De família de origem italiana, Jorge Bergoglio, seu nome de nascença, era o mais velho de cinco filhos.
O pontífice foi o primeiro papa jesuíta e latino-americano da história. Ao longo de sua trajetória, seu trabalho ficou marcado por reformas e pela defesa da diplomacia, incluindo o combate à pedofilia.
Com a saúde debilitada, Francisco vinha sofrendo de problemas respiratórios. Ele foi internado em 14 de fevereiro no hospital Agostino Gemelli, em Roma, na Itália, para tratar uma bronquite, mas exames revelaram uma pneumonia bilaterial. O católico teve alta em 23 de março e estava em recuperação.

O que dizem os argentinos
Os argentinos lamentaram a morte de seu compatriota e líder espiritual. Javier Languenari, 53 anos, estava varrendo folhas em frente à Catedral de Buenos Aires, que ainda estava fechada após a notícia da morte do papa argentino.
— Ele estava com a saúde muito debilitada. Ele aguentou o máximo que pôde. É incrivelmente triste. Como argentinos, somos mais órfãos. Mas, como católicos, sabemos que Jesus Cristo sempre estará lá — disse Javier à AFP.
Ao ouvir a notícia, ao amanhecer, um homem se ajoelhou e acendeu a primeira vela nos degraus da catedral, no centro de Buenos Aires, onde Jorge Bergoglio serviu como arcebispo antes de assumir o papado em 2013.
— A mensagem de Francisco sempre foi unir, estender a mão aos mais necessitados, aos aposentados. Aquela vela que acendi é uma homenagem a tudo o que ele nos ensinou — afirmou o advogado Agustín Hartridge, 41 anos, à AFP.
Na porta da igreja, uma mulher de 78 anos chorou inconsolavelmente.
— Eu o vi receber mães em prantos de desaparecidos, o vi se sacrificar nas vilas. Eu o conheço há 30 anos — disse Graciela Vilamia, referindo-se às Mães da Praça de Maio, que lutam para descobrir o paradeiro dos desaparecidos durante a ditadura argentina.
Como líder espiritual, Francisco colocou os excluídos no centro de seu discurso.
— Nada nunca me aconteceu com os outros papas, mas com este eu senti a dor, e é por isso que estou aqui. A Argentina teve a sorte de ter o primeiro papa da América Latina. Não creio que isso vá acontecer novamente — refletiu o peruano Guillermo Sánchez à AFP, de 47 anos, que mora em Buenos Aires há mais de duas décadas.