Diego Maradona "esteve em agonia" antes de morrer e seus médicos deveriam ter previsto seu quadro, disseram nesta quinta-feira (27) dois médicos que participaram de sua autópsia, no julgamento dos profissionais de saúde acusados pelo falecimento do ex-jogador na Argentina há quatro anos.
Havia "sinais de agonia" no coração, afirmou Mauricio Cassinelli, médico legista que examinou o corpo na casa onde Maradona morreu na cidade de Tigre, ao norte de Buenos Aires, e em uma autópsia realizada poucas horas depois em San Isidro, onde acontece o julgamento.
Casinelli indicou que a agonia pode ter começado "pelo menos 12 horas" antes da morte do ídolo, que a autópsia estabeleceu em entre 9h da manhã e meio-dia (mesmo horário em Brasília) de 25 de novembro de 2020.
Maradona vinha acumulando água em seus pulmões há "pelo menos dez dias" de seu falecimento, causado por insuficiência cardíaca e cirrose hepática, segundo Casinelli, que considerou que os enfermeiros e médicos deveriam ter notado os sintomas antes do desenlace.
O coração "pesava quase o dobro do que pesa um normal para uma pessoa adulta", apontou o médico. A autópsia também não encontrou "álcool ou outras substâncias tóxicas" no corpo.
Também foi ouvido nesta quinta Federico Corasaniti, outro médico que participou da autópsia, cujo depoimento foi similar ao de Cassinelli e coincidiu em que "houve agonia".
Corasaniti disse que o quadro não foi "súbito nem imprevisto" e que era facilmente detectável: "Era simplesmente colocar um dedo em suas pernas, sentir sua barriga, pegar o estetoscópio e ouvir seus pulmões, e ver a cor de seus lábios", indicou.
O primeiro médico assinalou que o cérebro também estava mais pesado que o normal, assim como os pulmões, que estavam "cheios de água". Ambos coincidiram em que a causa da morte foi "edema pulmonar agudo secundário a uma insuficiência cardíaca congestiva aguda".
Ademais, Casinelli disse que a casa onde Maradona morreu não lhe pareceu "um lugar adequado para uma internação domiciliar".
Os advogados de defesa não fizeram muitas perguntas às testemunhas e aguardam o comparecimento de outros peritos com versões distintas das apresentadas nesta audiência, que terminou por volta das 17h desta quinta-feira.
- O julgamento -
Durante a audiência em San Isidro, um subúrbio de Buenos Aires, foram projetadas fotos da autópsia de Maradona. Uma das filhas do astro, Jana, esteve presente após prestar depoimento como testemunha na terça-feira, mas se retirou da sala antes da exibição das imagens.
Na terça, outra testemunha, o ex-segurança de Maradona, Julio Coria, foi detido acusado de falso testemunho.
Seu advogado, Gastón Marano, disse aos jornalistas nesta quinta, na entrada do tribunal, que seu cliente "vai prestar depoimento por escrito" entre hoje e amanhã. Enquanto isso, Coria segue sob custódia policial.
Sete profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, a psiquiatra e um psicólogo) são acusados de homicídio com dolo eventual, o que implica que tinham consciência de que o seu procedimento poderia ocasionar a morte de Maradona. A oitava acusada, uma enfermeira, será julgada em um processo separado.
O ídolo de Boca Juniors e Napoli faleceu durante uma internação domiciliar enquanto estava sob cuidado dos acusados, após uma neurocirurgia.
Diversas testemunhas, entre elas os policiais que entraram na casa após a morte do ídolo do futebol e os primeiros médicos a chegar, destacaram a ausência de equipamentos médicos no local.
O julgamento, que começou em 11 de março, deve durar pelo menos até julho, e espera-se que dezenas de testemunhas sejam ouvidas. Os acusados alegam inocência e podem ser condenados a entre oito e 25 anos de prisão.
A próxima audiência será na terça-feira e a promotoria ainda não anunciou quais serão as testemunhas.
* AFP