"Não vejo por que perderia tempo apalpando uma mulher, seu traseiro, seus seios. Não sou um pervertido de metrô", declarou, nesta terça-feira (25), o astro do cinema francês Gérard Depardieu, durante seu julgamento em Paris por duas supostas agressões sexuais.
O ator, de 76 anos, julgado por agredir sexualmente duas mulheres durante uma gravação em 2021, rebateu as acusações em sua primeira declaração ao tribunal, assegurando que "há vícios" que ele não conhece.
Depardieu, que já atuou em mais de 200 filmes e séries de televisão, é a figura de maior renome a enfrentar acusações de violência sexual, na resposta do cinema francês ao movimento #MeToo.
Os fatos julgados ocorreram durante a gravação em 2021 do filme "Les Volets Verts", do diretor Jean Becker. Uma cenógrafa, de 54 anos, e uma assistente de direção, de 34, o acusam de agressão, assédio e ofensas sexistas.
Após um resumo dos fatos pelo presidente do tribunal correcional de Paris, o ator levantou-se lentamente e sentou-se em um banco para prestar depoimento e responder às perguntas.
Ele evocou suas lembranças das filmagens, especialmente do dia 10 de setembro de 2021, quando, segundo Amélie, ele a assediou sexualmente imobilizando-a entre suas coxas, tocando-lhe o púbis e subindo até seus seios.
"É sexta-feira, está calor e úmido (...). Peso 150 quilos, estou de mau humor. Uma mulher me olha de maneira estranha. Ela é um pouco bonita, mas introvertida. Ela tem seu celular na mão", recordou ao falar da denunciante.
Após o que descreveu como uma forte discussão sobre o cenário do filme, Gérard Depardieu reconheceu que apenas agarrou seus quadris "para não escorregar", porque estava muito irritado com seu trabalho.
- "O que é sujo?" -
Na sala, Amélie, sentada ao lado de Sarah, ouviu atentamente seu depoimento. Em sua denúncia, a cenógrafa assegura que o ator gritou que queria um "ventilador" porque não podia nem "ter uma ereção" por causa do calor.
Em seguida, ele teria afirmado que podia "fazer com que as mulheres chegassem ao orgasmo sem tocá-las" e, uma hora depois, a agarrou "com brutalidade" e apalpou sua cintura, ventre e seios, enquanto proferia "comentários obscenos", segundo seu relato.
Questionado sobre as palavras obscenas, o acusado expressou sua raiva no tribunal. "O que é sujo? Dizer 'buceta'? Digo o tempo todo 'buceta', até para mim mesmo, me diverte!", assegurou.
Antes de voltar ao seu lugar, o intérprete criticou o movimento #MeToo, o qual considera responsável por seu julgamento: "Este movimento se tornará um terror".
O julgamento estava inicialmente previsto para outubro do ano passado, mas o réu não compareceu à audiência alegando as sequelas de uma operação cardíaca e uma diabetes agravada pelo estresse do processo que se aproximava.
O novo processo, que começou na segunda-feira, pode se prolongar até quarta-feira devido às restrições médicas impostas: as sessões não podem durar mais de 6 horas e o acusado deve poder fazer um lanche a cada três horas e ter acesso privado a um banheiro.
Além de Amélie, Sarah, que era a assistente de direção nesse filme, também o denunciou por tocá-la em duas ocasiões "no peito e nas nádegas" em agosto de 2021, indicou ao meio investigativo Mediapart.
Além deste julgamento, quase 20 mulheres acusam o ator francês por comportamentos similares, mas a maioria das denúncias foi arquivada porque os fatos prescreveram.
A atriz francesa Charlotte Arnould foi a primeira a apresentar uma denúncia. Em agosto, o Ministério Público de Paris solicitou que o ator fosse julgado por estupros e agressões sexuais.
"Nunca abusei de uma mulher", garantiu Depardieu, que sempre defendeu sua inocência, em uma carta aberta publicada pelo jornal Le Figaro em outubro de 2023.
* AFP