O mundo relembra o 80º aniversário da libertação dos prisioneiros de Auschwitz nesta segunda-feira (27), dia em que um grupo de sobreviventes participa de cerimônias memoriais no campo de extermínio construído pelos nazistas na Polônia.
O evento começou pela manhã com uma cerimônia na qual alguns sobreviventes, acompanhados pelo presidente polonês, Andrzej Duda, levaram flores ao Muro da Morte, onde os prisioneiros eram fuzilados no campo.
Cerca de 50 sobreviventes participarão de uma cerimônia às 15h (meio-dia no horário de Brasília) do lado de fora dos portões de Auschwitz II-Birkenau, acompanhados por dezenas de líderes mundiais, incluindo o rei britânico Charles III e o presidente francês, Emmanuel Macron.
— Neste ano, vamos nos concentrar nos sobreviventes e em sua mensagem. Não haverá discursos de políticos — disse Pawel Sawicki, porta-voz do Museu de Auschwitz, à AFP.
O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, também estarão no evento, assim como o ministro da educação israelense, Yoav Kisch.
Os organizadores observaram que este deve ser o último evento marcando uma década com participação de um grande grupo de sobreviventes.
— Todos sabemos que, em 10 anos, não será possível ter um grupo grande para o 90º aniversário — disse Sawicki.
História de Auschwitz
Auschwitz foi o campo de extermínio mais famoso e se tornou um símbolo do genocídio de 6 milhões de judeus europeus pelas mãos dos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Foi construído em 1940 na localidade de Oswiecim, no sul da Polônia. Os nazistas mudaram o nome para Auschwitz.
Os primeiros 728 prisioneiros políticos poloneses chegaram em 14 de junho daquele ano. Em 17 de janeiro de 1945, enquanto as tropas soviéticas avançavam, os nazistas forçaram 60 mil prisioneiros a marchar para Oeste, no que ficou conhecido como Marcha da Morte.
De 21 a 26 de janeiro, os alemães destruíram as câmaras de gás e os crematórios e se retiraram antes da chegada dos soviéticos. Quando as tropas chegaram, em 27 de janeiro, encontraram 7 mil sobreviventes. A data foi designada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
Memórias dos sobreviventes
Cerca de 40 sobreviventes dos campos nazistas falaram com a AFP antes do aniversário de libertação de Auschwitz. Eles comentaram a necessidade de se preservar a memória para quando não houver mais testemunhas vivas.
Os sobreviventes também alertaram para o aumento do ódio e do antissemitismo ao redor do mundo e expressaram medo de que a história possa se repetir. Em 15 países, de Israel à Polônia, da Rússia à Argentina e do Canadá à África do Sul, eles se sentaram diante das câmeras da AFP para contar as suas histórias.
— Como o mundo pôde permitir Auschwitz? — perguntou Marta Neuwirth, 95 anos, no Chile. Ela tinha 15 anos quando foi enviada da Hungria para o campo de extermínio.
Julia Wallach, com quase cem anos, não consegue falar sobre o que aconteceu sem chorar.
— É muito difícil falar sobre isso — admitiu a parisiense, que foi retirada no último minuto de um caminhão que seguia para a câmara de gás de Birkenau.
No entanto, por mais difícil que seja reviver esses horrores, ela diz que continuará contando a sua história.
— Enquanto eu puder fazer isso, farei — afirmou.
Ao seu lado, a neta Frankie se perguntava:
— Eles acreditarão em nós se falarmos sobre isso quando ela não estiver mais aqui?
Esther Senot, 97 anos, retornou a Birkenau com algumas crianças francesas em dezembro, no meio do rigoroso inverno polonês.
Senot cumpriu assim uma promessa feita em 1944 à irmã Fanny, que, acamada e tossindo sangue, pediu-lhe com seu último suspiro:
— Conte o que nos aconteceu (...) para que a história não nos esqueça.