Em uma extensa cidade de tendas no centro de Gaza, os palestinos deslocados pela guerra aguardam apenas uma coisa: uma trégua para poder retornar às suas casas.
A maioria das 2,4 milhões de pessoas que moram em Gaza foi deslocada pelo menos uma vez para outras partes do território devido à guerra entre Israel e Hamas.
Com um esperado acordo de trégua que entrará em vigor em domingo, essas pessoas finalmente poderão retornar às suas casas.
Umm Jalil Bakr está vivendo com sua família em um campo de Nuseirat, onde palestinos deslocados fazem o possível para levar uma vida o mais próximo possível da normalidade.
Lá, assam pão em fornos de barro, jogam cartas para passar o tempo quando não há bombardeios e varrem as ruas como um ato de dignidade.
Se o cessar-fogo for mantido, as pessoas começarão a voltar para suas casas, embora não tenham ilusões sobre o que encontrarão.
"Levarei minha tenda, removerei os escombros da casa e colocarei minha tenda sobre os escombros, onde viverei com meus 10 filhos", disse Umm Jalil à AFP.
"Sabemos que o clima será frio e que não teremos cobertores para dormir, mas o que importa é que voltaremos para nossa terra", acrescentou ela.
Sua determinação em reconstruir sua vida é um sentimento compartilhado por outras pessoas.
"Voltaremos e, independentemente das dificuldades que enfrentarmos, voltaremos. Isso não é vida, e isso não é a nossa vida", afirmou Umm Mohammed al Tawil, citando as dificuldades da vida neste campo para deslocados.
- "Viver em uma tenda" -
Poucos quilômetros ao sul, em Deir el Balah, a família Moqat está pronta para retornar a Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza.
"Levaremos a tenda conosco... e viveremos nela [...] até que eles encontrem uma solução para a reconstrução", declarou Fatima Moqat.
Como a trégua ainda não entrou em vigor, a violência não cessa. Nesta sexta-feira, a agência de Defesa Civil de Gaza reportou que pelo menos 113 pessoas foram mortas por bombardeios israelenses no território depois que o Catar e os Estados Unidos anunciaram o acordo.
A magnitude de destruição em Gaza, causada por 15 meses de ataques aéreos, bombardeios e combates, levará vários anos para ser reconstruída, segundo agências internacionais.
A Organização Mundial da Saúde disse que somente a reconstrução do sistema de saúde do território custaria US$ 10 bilhões (quase R$ 61 bilhões na cotação atual) e levaria de cinco a sete anos.
De acordo com a ONU, em 1º de dezembro, cerca de 69% dos edifícios de Gaza foram destruídos ou danificados, de modo que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) estimou que poderia levar até 2040 para reconstruir todas as casas destruídas.
- "Beijarei minha terra" -
A guerra teve início em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas realizou o ataque mais mortal da história de Israel, que deixou 1.210 mortos, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelenses.
Desde então, a resposta de Israel somou 46.876 mortos, a maioria civis, segundo Ministério da Saúde da Faixa de Gaza controlada pelo Hamas.
De acordo com Moqat, a dor das vidas perdidas na guerra será o mais difícil de superar.
"Gaza foi destruída e reconstruída cem vezes antes.... As casas podem ser substituídas, mas as pessoas não", disse.
De volta a Nuseirat, deitado no chão dentro de sua tenda, Nassr al Gharabli não consegue mais esperar para voltar para casa.
"Estou esperando a manhã de domingo, quando anunciarem o cessar-fogo... Beijarei minha terra. Se eu morrer em minha terra, seria melhor do que estar aqui como um deslocado", declarou.
* AFP