Eleito em novembro passado para governar novamente os Estados Unidos, Donald Trump foi empossado no cargo nesta segunda-feira (20). Com 78 anos e sete meses, ele se torna o mais velho a assumir a presidência norte-americana na história, superando seu antecessor, Joe Biden, que tomou posse aos 78 anos e dois meses de idade.
Por volta das 15h (horário de Brasília), após fazer o juramento oficial do cargo, o novo mandatário iniciou seu discurso de posse. Em relação à fala de 2017, já se observa uma grande diferença na duração: Trump falou por cerca de 30 minutos nesta segunda-feira, quase o dobro dos 16 minutos do discurso de quando assumiu o cargo pela primeira vez.
O republicano abordou novamente alguns tópicos que foram destaque durante sua campanha e que já haviam sido objeto de comentários em 2017, como o reforço da segurança fronteiras do país a fim de conter a imigração ilegal. Contudo, o presidente também trouxe à tona desta vez assuntos que não foram mencionados em seu discurso de posse anterior, como políticas de inclusão, que ele promete extinguir.
Confira, a seguir, uma comparação entre os principais trechos dos dois discursos de posse de Donald Trump:
"América em primeiro lugar"
Logo na abertura do discurso desta segunda, Donald Trump afirmou que "a era de ouro da América começa agora". Na sequência, ampliou essa ideia, dizendo que os Estados Unidos "florescerão e serão respeitados novamente em todo o mundo", retomando também o conceito de "colocar a América em primeiro lugar", slogan consagrado durante seu primeiro mandato.
— Acredito que tenha sido um discurso muito mais incisivo e muito mais conservador do que a posse dele de oito anos atrás. Não sei se mais radical, por já conhecermos seu modus operandi, mas mais conservador sem dúvida nenhuma. É um discurso diferente de 2017, embora retome alguns lemas, como o "America First", e chama a atenção a fala sobre a "era de ouro" na abertura. É um Trump que olha ainda mais para o protecionismo, para o nacionalismo, tanto econômico quanto político — destaca Roberto Uebel, professor de relações internacionais da ESPM em São Paulo.
Imigração
Um dos principais temas da campanha presidencial, o tópico da imigração e da proteção das fronteiras nacionais dos Estados Unidos apareceu com grande destaque no discurso desta segunda. Além de afirmar que "todas as entradas ilegais serão imediatamente interrompidas" e que o país iniciará um "processo de devolução de milhões e milhões de estrangeiros criminosos", Trump também ressaltou que irá declarar "emergência nacional na nossa fronteira sul", para onde pretende enviar tropas.
Em 2017, o tema da imigração esteve presente na campanha presidencial, quando Trump afirmava que construiria um muro em toda a fronteira com o México, e também no discurso de posse, quando ele afirmou por mais de uma vez que o país iria "retomar suas fronteiras".
— Nesse aspecto, não está mais radical, o discurso retoma um assunto de 2017. O muro era a pauta da época, agora é fechar a fronteira com tropas. Agora Trump promete endurecer medidas que, na sua avaliação, Biden devia ter tomado e não tomou, principalmente no que diz respeito a deportações de ilegais — observa Matheus Fröhlich, professor de relações internacionais na Universidade do Vale do Taquari (Univates).
Política externa
No discurso de 2017, Trump foi mais contido e generalista ao abordar a política externa, afirmando que o país iria "procurar amizade e boa vontade com as nações do mundo", "com o entendimento de que é o direito de todas as nações colocar seus próprios interesses em primeiro lugar". De forma mais assertiva, mencionou apenas que iria "reforçar alianças antigas e formar novas, e unir o mundo civilizado contra o terrorismo radical islâmico".
Na fala deste ano, o presidente dos Estados Unidos foi mais direto e agressivo em suas afirmações. Apesar de afirmar que deseja ser conhecido como "pacificador e unificador", tentando pegar para si os méritos do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas, Trump disse que deseja mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América e reforçou que pretende "tomar de volta" o Canal do Panamá.
— A gente vê que ele está querendo desacelerar os conflitos na Ucrânia, o conflito entre Israel e o Hamas, com uma declaração de aderência total a Israel. Ao mesmo tempo, mantém uma posição de querer ver o Panamá como Estado cliente, com o canal tendo que voltar a ser americano ou com o Panamá tendo que favorecer os interesses norte-americanos no canal. Ele fez uma ameaça velada do ponto de vista militar e direta do ponto de vista político e comercial, ainda não falou sobre ocupar o canal do Panamá militarmente, mas também não descartou essa possibilidade — analisa Fabricio Pontin, professor de direito e relações internacionais na Universidade LaSalle.
Protecionismo comercial
Um assunto que voltou a aparecer na fala desta tarde e que já havia sido destacado em 2017 foi o protecionismo comercial que Trump pretende impor. Em seu primeiro discurso de posse, ele afirmou que "por muitas décadas, enriquecemos a indústria estrangeira às custas da indústria americana".
Neste ano, dentro do conceito de "America First", o tópico foi mencionado por diversas vezes. O presidente destacou, por exemplo, que revogará "a norma dos veículos elétricos, salvando a nossa indústria automotiva", reforçando em seguida que fará uma revisão do sistema comercial do país.
— Em vez de tributar os nossos cidadãos para enriquecer outros países, iremos impor tarifas e tributar países estrangeiros para enriquecer os nossos cidadãos — disse o presidente americano.
— O que Trump está defendendo nesse discurso é um protecionismo altíssimo, muito intenso, de taxação de produtos importados, com uma intensificação da volta da manufatura norte-americana. Trump quer tornar os Estados Unidos mais competitivos através da taxação de produtos importados. Ele não conseguiu implementar isso no primeiro mandado, mas acredito que nesse segundo mandato tente fazer isso com mais força — complementa Fabricio Pontin.
Energia e meio ambiente
Estes temas não apareceram com grande destaque no discurso de posse de 2017, mas, durante o primeiro mandato, Trump adotou medidas favoráveis à exploração de combustíveis fósseis e contra políticas públicas de preservação do meio ambiente. Na fala desta segunda, o tópico teve bastante destaque.
Trump afirmou que "acabará com o New Deal verde" e, mesmo citando os incêndios na Califórnia, não fez menção à crise climática global. Ao contrário, repetiu o slogan "drill, baby, drill", incentivando novas perfurações para exploração de petróleo, que chamou de "ouro líquido", afirmando também que iria declarar uma "emergência energética nacional" por causa dos altos preços do setor.
— Trump deixou muito claro que será um governo que vai romper com as políticas ambientais e climáticas das administrações anteriores. Na sua fala, reafirma que vai incentivar ao máximo o consumo de petróleo, gás e seus derivados — reforça Roberto Uebel.
Políticas de gênero
Outro tópico que Trump introduziu no discurso desta segunda que não havia sido referido no seu discurso de posse anterior foram as políticas de inclusão. O tema vem ganhando destaque nos Estados Unidos nos últimos anos, enquanto o novo presidente representa uma agenda conservadora.
No discurso desta tarde, Trump mencionou expressamente que irá "pôr fim à política governamental de tentar incorporar socialmente a raça e o gênero em todos os aspectos da vida pública e privada", destacando principalmente que "será política oficial do governo dos Estados Unidos que existam apenas dois gêneros, masculino e feminino".
— Quando diz que só existem dois gêneros, masculino e feminino, Trump entra nessa guerra cultural que é padrão atualmente na direita norte-americana. Além disso, a citação à questão de gênero também tem o sentido de trazer para si líderes e personalidades políticas internacionais que têm esse discurso contra essas discussões de gênero — complementa Matheus Fröhlich.