O líder do Partido do Poder Popular (PPP) da Coreia do Sul pediu nesta sexta-feira (6) a "rápida suspensão" do presidente Yoon Suk-yeol por sua tentativa de impor a lei marcial e assegurou que sua permanência no poder é um "grande perigo" para o país.
As declarações impactantes de Han Dong-hoon, líder do partido de Yoon, deixam o presidente praticamente sozinho na véspera da votação de uma moção de destituição, marcada para sábado na Assembleia Nacional.
— Levando em consideração os novos fatos, acho que é necessária uma rápida suspensão de funções do presidente Yoon Suk-yeol para proteger a República da Coreia e sua população — disse Han.
Yoon não tomou nenhuma ação contra os oficiais do Exército que intervieram ilegalmente nem tampouco reconhece que sua lei marcial ilegal foi um erro.
— Por isso, se o Yoon continuar no cargo de presidente, há risco significativo de que ações extremas similares à emergência atual se repitam, o que colocaria a República da Coreia e seus cidadãos em grande perigo — argumentou.
Suspensão de militares
Algumas horas depois, o Ministério da Defesa da Coreia do Sul anunciou a suspensão de três oficiais de alto escalão do Exército por sua participação na aplicação da efêmera lei marcial. Os três militares punidos são o comandante militar de Seul, o comandante das forças especiais e o comandante de contraespionagem.
O líder do PPP também citou "indícios confiáveis" de que Yoon ordenou a detenção de "políticos importantes" durante as horas de vigência da lei.
Um deputado da oposição, Jo Seung-lae, disse nesta sexta-feira que as imagens das câmeras de segurança mostram que os soldados tentaram deter o líder da oposição Lee Jae-myung, o presidente do parlamento, Woo Won-shik, e o próprio Han Dong-hoon.
O gabinete da presidência negou que tenha ordenado a detenção de deputados, segundo a agência de notícias Yonhap.
Segunda lei marcial
Yoon suspendeu a ordem civil na noite de terça-feira (3) e enviou tropas e helicópteros para o parlamento, onde, em meio a protestos da população, deputados opositores conseguiram entrar para votar contra a lei marcial.
Horas depois, diante da indignação gerada na Coreia do Sul e do espanto de seus aliados internacionais com a surpreendente medida, o presidente recuou e retirou o Exército em um discurso de madrugada.
Acusando Yoon de "violar gravemente a Constituição e a lei", a oposição apresentou a moção de destituição que a Assembleia Nacional votará no sábado às 19h (7h no horário de Brasília).
A aprovação do processo de impeachment não estava clara porque, embora a oposição tenha 192 dos 300 deputados no parlamento, precisava de alguns votos do PPP para alcançar a maioria de dois terços necessária, o que, após a mudança de postura do partido, parece algo garantido.
— Parece que Han e os membros do partido concluíram que há uma possibilidade significativa de que o presidente Yoon declare uma segunda lei marcial — afirma à AFP o professor de Ciência Política Shin Yul, da Universidade Myongji.
Diante do cenário, um porta-voz da principal legenda de oposição, o Partido Democrata, disse que todos os seus deputados permanecerão dentro da Assembleia Nacional até que a moção seja votada.
Caso o processo siga adiante, Yoon, um ex-promotor de Justiça que virou presidente em 2022, ficará suspenso de maneira provisória, enquanto aguarda um veredicto da Corte Constitucional.
Uma pesquisa publicada na quinta-feira (5) pelo instituto Realmeter indica que 73,6% dos entrevistados apoiam a destituição. E outro levantamento divulgado nesta sexta-feira aponta que o índice de aprovação do presidente despencou para 13%.
Insurreição
O caso está sendo investigado por uma equipe de 120 policiais, que examinam a denúncia de insurreição apresentada pela oposição contra Yoon e outros funcionários de alto escalão.
— Se surgirem evidências durante a investigação sobre os preparativos para uma segunda lei marcial, nós vamos perseguir — disse Kim San-ho, que supervisiona a investigação, à AFP.
A denúncia também envolve o ex-ministro da Defesa Kim Yong-hyun, que renunciou ao cargo na quinta-feira e está proibido de deixar o país.
Esta foi a primeira declaração de lei marcial na Coreia do Sul em mais de 40 anos e provocou recordações dolorosas da ditadura que governou o país até 1987.
O presidente, que enfrenta uma dura oposição parlamentar devido aos orçamentos do próximo ano, justificou a medida pelas "ameaças que representam as forças comunistas da Coreia do Norte" e devido aos "elementos antiestatais que roubam a liberdade e a felicidade do povo".
A oposição diz que Yoon queria "evitar investigações iminentes sobre supostos atos ilegais que envolvem ele e sua família".