O ex-presidente boliviano Evo Morales, líder da oposição na Bolívia, relatou neste domingo (27) que o veículo em que estava foi alvo de um ataque a tiros. O incidente foi registrado em vídeo e divulgado nas redes sociais de Morales.
— O carro em que cheguei levou 14 tiros. Me surpreenderam. Felizmente, hoje, salvamos nossas vidas (...). Os que atiraram estavam encapuzados (...). Isto foi planejado, era para matar Evo — afirmou Morales em entrevista à rádio Kawsachun Coca.
Segundo o relato de Morales, o ataque aconteceu no município de Shinahota, por volta das 6h20min, quando dois veículos supostamente ocupados por policiais armados interceptaram o carro. A publicação nas redes sociais inclui imagens das marcas de tiros no veículo e do motorista ferido, com sangue na cabeça e no peito.
Os conflitos refletem a escalada das tensões políticas entre Morales, atualmente oposição ao presidente Luis Arce, e o governo boliviano. O atual líder já mobilizou mais de 1.700 policiais e 113 veículos para desbloquear estradas fechadas pelos apoiadores de Morales, que protestam contra o que chamam de “perseguição judicial” ao ex-presidente.
Tentativa de prisão
A ação das autoridades ocorre após Morales não cumprir uma intimação do Ministério Público de Tarija para depor em uma investigação de abuso de uma menor de idade, que teria ocorrido em 2015.
O governo de Arce, ex-aliado de Morales, está determinado a evitar novos bloqueios, mas a situação se agrava com a resistência dos simpatizantes do ex-presidente, que permanecem em estradas e vias estratégicas da Bolívia há quase duas semanas.
— Não permitiremos que o interesse de uma pessoa se sobreponha ao bem-estar coletivo — declarou Arce, destacando o trabalho das forças policiais em desbloquear ao menos 12 pontos de interdição pelo país.
Clima de tensão social
Os confrontos entre policiais e manifestantes camponeses, liderados por Morales, deixaram mais de dez feridos e resultaram na prisão de 44 civis. Os bloqueios, em sua maioria localizados em Cochabamba, reduto de Morales, visam pressionar o governo a cessar as ações legais contra o ex-presidente.
Os choques mais violentos ocorreram em Parotani, rota que conecta Cochabamba a La Paz, onde 14 agentes ficaram feridos. Segundo relatório da Administradora Boliviana de Rodovias, 16 pontos de bloqueio permanecem ativos no país, com mobilizações intensas desde o dia 14 de outubro.
Mesmo em meio às pressões, Morales insiste que a acusação é infundada, e que o caso já teria sido investigado e arquivado pela justiça em 2020.