Após dois anos de invasão, a Rússia admitiu nesta sexta-feira (22) que se encontra em "estado de guerra" na Ucrânia, horas depois de utilizar dezenas de mísseis e drones em bombardeios contra infraestruturas de energia que deixaram cinco mortos.
A Rússia lançou, na madrugada de sexta-feira, quase 90 mísseis e 60 drones explosivos de fabricação iraniana contra a ex-república soviética e atingiu dezenas de instalações do sistema de energia, incluindo centrais elétricas.
O Exército russo afirmou que estes ataques foram uma "retaliação" aos bombardeios e incursões ucranianos nas suas regiões fronteiriças.
Ao menos cinco pessoas morreram e mais de 20 ficaram feridas, segundo as autoridades ucranianas.
"Estamos em estado de guerra", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, em uma entrevista ao jornal pró-Kremlin Argumenty i Fakty, após insistir, nos últimos dois anos, em citar "operação especial" e rejeitar o uso do termo "guerra".
"Sim, isto começou como uma operação militar especial, mas assim que este grupo se formou, quando o Ocidente coletivo se tornou um participante do lado da Ucrânia, para nós isto se tornou uma guerra", acrescentou Peskov.
Moscou acusa as potências ocidentais de envolvimento direto no conflito devido ao fornecimento de armas a Kiev.
Os bombardeios russos na madrugada de sexta-feira atingiram nove regiões, de Kharkiv a Zaporizhzhia, perto da linha de frente, até Lviv e Ivano-Frankivsk, no oeste da Ucrânia, a centenas de quilômetros da zona de combate.
"Foram mais de 60 Shahed e quase 90 mísseis de diversos tipos durante a noite", afirmou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
Os ataques foram direcionados contra "centrais de energia elétrica, linhas de alta tensão, uma represa hidrelétrica, residências e até um ônibus", segundo Zelensky.
- Sem eletricidade -
O ministro da Energia, German Galushchenko, afirmou que o bombardeio noturno foi "o maior ataque contra a indústria energética ucraniana dos últimos tempos".
A segunda cidade da Ucrânia, Kharkiv, que tinha quase 1,5 milhão de habitantes antes da guerra, foi completamente privada de eletricidade e calefação porque os bombardeios danificaram "gravemente" as instalações energéticas, disse o seu prefeito, Igor Terejov, segundo o qual o ataque "com mais de 20 mísseis" foi o "mais poderoso" contra a cidade desde o início da guerra.
"Dezenas de instalações elétricas foram danificadas. Cortes urgentes em sete regiões. O sistema elétrico recebe ajuda de emergência de três países", afirmou a operadora ucraniano Ukrenergo.
Uma das linhas de energia elétrica que abastecem a central nuclear ucraniana de Zaporizhzhia, ocupada por Moscou, foi cortada por um bombardeio, anunciou Galushchenko.
"Esta situação é extremamente perigosa e ameaça provocar uma situação de emergência, pois se acontecer uma ausência de conexão desta última linha de comunicação com a rede elétrica nacional, a central nuclear de Zaporizhzhia ficará à beira de um novo 'apagão'", alertou a operadora ucraniana Energoatom.
- Uma morte em Belgorod -
O Exército russo apresentou este ataque "massivo" contra a Ucrânia como "retaliação" pelas recentes operações militares de Kiev contra as regiões fronteiriças.
Os alvos dos bombardeios foram "infraestruturas energéticas e militar-industriais, eixos ferroviários e arsenais", indicou.
O Kremlin sempre garantiu à população russa que o conflito não a afetaria nem impactaria o território, mas com as eleições presidenciais russas em meados de março, Kiev multiplicou os seus ataques.
Uma pessoa morreu e várias ficaram feridas nesta sexta-feira em um bombardeio na região russa de Belgorod, na fronteira com a Ucrânia.
A Rússia já lançou um bombardeio massivo contra Kiev no dia anterior, o primeiro na capital ucraniana desde o início de fevereiro. A Ucrânia derrubou trinta mísseis, embora 17 tenham ficado feridos pelos restos dos projéteis.
O comando das forças terrestres ucranianas considerou "possível" uma ofensiva russa no verão, que envolveria 100 mil homens, embora tenha esclarecido que estas eram as "previsões mais sombrias" e que poderia ser um contingente para compensar as baixas.
Nos últimos meses, o Exército russo reivindicou o controle de várias cidades, diante de tropas ucranianas desgastadas pela falta de munições e de homens. Mas no geral, há mais de um ano, há poucas mudanças importantes no front.
Zelensky voltou a criticar o atraso na entrega da ajuda militar dos aliados ocidentais. Ele insiste na urgência de receber mais recursos de defesa antiaérea.
Nos Estados Unidos, um pacote de 60 bilhões de dólares está bloqueado há vários meses devido às disputas políticas entre republicanos e democratas.
"Os mísseis russos não atrasam, ao contrário dos pacotes de ajuda ao nosso país. Os Shahed não são indecisos, ao contrário de alguns políticos", afirmou Zelensky.
* AFP