O segundo suspeito da série de ataques a faca do domingo no Canadá, que deixaram uma dezena de mortos, continuava foragido nesta terça-feira (6), apesar do envio de centenas de policiais e da intensificação da busca na comunidade afetada.
A comunidade epicentro dos atentados permaneceu em estado de alerta máximo durante várias horas nesta terça-feira, em meio a uma operação policial para capturar o segundo suspeito dos ataques, que poderia estar escondido no povoado.
Jornalistas da AFP no local viram diversos veículos da polícia e um helicóptero que sobrevoava a região, cujo acesso estava completante proibido. Horas mais tarde, o estado de alerta foi retirado.
Dois irmãos nascidos na região, Damien e Myles Sanderson, são suspeitos de semear o terror neste povoado e na cidade vizinha no domingo, matando 10 pessoas a facadas e ferindo outras 18 antes de fugir.
Desde então, são procurados pelas autoridades. Após um dia de buscas, policiais encontraram o corpo de Damien Sanderson, 31 anos, perto de um dos povoados.
Embora as circunstâncias de sua morte ainda não estejam totalmente esclarecidas, Damien poderia ter sido morto por seu irmão, segundo a polícia.
Enquanto Myles Sanderson permanece foragido, a polícia pediu nesta terça-feira para que os moradores sejam "cautelosos".
A grande caça ao homem ocorre em uma enorme área rural no centro do país, três vezes o tamanho da França.
"Myles está armado e é perigoso", disse a polícia em comunicado, acrescentando que o homem tem 32 anos, e não 30 como informado anteriormente.
Myles Sanderson já havia sido condenado a cinco anos de prisão por roubo e era procurado desde maio por violar sua liberdade condicional.
Os assassinatos se concentraram primeiro em uma comunidade nativa em James Smith Cree Nation, e depois na cidade vizinha de Weldon, na província rural e muito povoada de Saskatchewan, no centro-oeste do país.
"Nossas vidas nunca mais serão as mesmas", lamentou Ruby Works, 42, moradora de Weldon. "As pessoas têm medo de sair de casa", contou a mulher, de luto por seu amigo Wes Peterson, morto no domingo. Ela afirma que não dormirá "até que peguem o suspeito".
Autoridades acreditam que algumas das vítimas estavam na mira dos suspeitos, e outras foram atacadas de forma aleatória. A maioria era indígena. Desde o ataque, a comunidade de James Smith Cree Nation se declarou em estado de emergência.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, repetiu nesta terça-feira que os esforçoso não serão poupados "para acabar com essa situação".
- "Já sofreram o suficiente" -
Nas redes sociais, muitas pessoas da comunidade Cree, um dos primeiros povos do Canadá, expressaram tristeza e preocupação e pediram que Sanderson se entregue às autoridades.
Bobby Cameron, chefe da Federação de Nações Autóctones Soberanas (FSIN), que representa as comunidades da província, implorou a "toda a população de Saskatchewan a compartilhar qualquer informação pertinente".
"A incerteza segue provocando stress e pânico incomensuráveis em nossas famílias, amigos e vizinhos. Já sofreram o suficiente", acrescentou.
A comunidade viveu anteriormente outros episódios de violência. Há praticamente um ano, um tiroteio deixou dois mortos.
No Canadá, os autóctones representam em torno de 5% dos 38 milhões de habitantes e vivem em comunidades muitas vezes afetadas pela pobreza e desemprego. Segundo dados oficiais, 50% da população da comunidade, com taxa de desemprego de 24%, têm menos de 24 anos.
Várias autoridades indicaram também problemas com drogas e álcool além de dificuldades relacionadas ao trauma geracional causado durante um século de abusos em internatos para indígenas.
Darryl Burns, cuja irmã foi assassinada no domingo, explicou a meios locais que os dois suspeitos eram "produtos dos internatos" e "tinham muita raiva". "A luta que enfrentamos aqui não é entre nós... a batalha é contra o alcoolismo e uso de drogas", acrescentou.
Nos últimos anos, o Canadá viveu uma sucessão de eventos de uma violência rara neste país. Em abril de 2020, um homem armado disfarçado de policial matou 22 pessoas na Nova Escócia. Em janeiro de 2017, seis pessoas foram mortas em um tiroteio em uma mesquita de Quebec.
* AFP