O presidente francês, Emmanuel Macron, chegou nesta quinta-feira (25) à Argélia, um fornecedor de gás cada vez mais importante para a Europa, a fim de "relançar" uma relação marcada pelo ressentimento do período colonial.
O avião do chefe de Estado francês, acompanhado por uma delegação de mais de 90 pessoas, aterrissou por volta das 15h30 locais (11h30 em Brasília) em Argel.
Macron foi recebido ao descer do avião por seu homólogo, Abdelmadjid Tebboune, com honras militares. Os dois se abraçaram antes da execução dos hinos nacionais, tocados por uma orquestra militar.
Tebboune comemorou os "resultados animadores", que facilitam "traçar perspectivas promissoras na associação especial que nos une".
Em uma declaração comum aos veículos de imprensa, após mais de duras horas de entrevista com Macron, Tebboune destacou a determinação da França e da Argélia em "avançar e intensificar os esforços para melhorar as relações entre os dois países".
Ele mencionou a retomada das atividades de vários comitês intergovernamentais e disse que haverá "uma intensificação das visitas de alto nível", assim como da "cooperação em todos os níveis e os intercâmbios comerciais".
Em seu discurso, o presidente francês destacou a vontade dos dois países de olhar para o futuro e "trabalhar juntos sobre este passado comum (...) complexo, doloroso".
As relações entre os dois países ficaram tensas no ano passado depois que Macron questionou a existência da Argélia antes da ocupação francesa, que durou mais de 130 anos, e acusou Argel de fomentar "ódio à França".
Seu homólogo argelino respondeu retirando o embaixador de seu país de Paris em outubro do ano passado e também proibiu aviões militares franceses de sobrevoar seu espaço aéreo.
Mas a disputa diplomática chegou ao fim quando a Presidência francesa disse que "lamentava" os mal-entendidos causados pelos comentários de Macron, feitos a portas fechadas, mas reproduzidos pelo jornal Le Monde.
- "Necessidade política" -
A eleição em 2017 do primeiro presidente francês nascido depois de 1962 foi, no entanto, anunciada como um bom presságio para o relacionamento franco-argelino. Sua segunda visita ao país busca "reforçá-lo", segundo o Eliseu.
"Em vista do risco de instabilidade no Magreb, dos conflitos no Sahel e da guerra na Ucrânia, a melhora das relações entre a França e a Argélia se impõe como uma necessidade política", avaliou o cientista político argelino Mansour Kedidir.
A visita ocorre em um período carregado de símbolos, com o 60º aniversário dos Acordos de Evian, que encerraram oito anos de guerra e abriram o caminho para a independência da Argélia em julho de 1962.
O desejo do presidente francês de acalmar as tensões também ocorre enquanto a Argélia desponta como fornecedor alternativo de gás, fundamental para a União Europeia (UE), após a invasão russa da Ucrânia.
Os países europeus querem acabar com sua dependência dos hidrocarbonetos russos, o que dá à Argélia - com seus gasodutos para Espanha e Itália - peso e importância renovados.
Ainda assim, o gás argelino não é "verdadeiramente o objetivo da visita" e haverá "anúncios de grandes contratos ou grandes negociações deste tipo", garantiu o Palácio do Eliseu.
- "Juventude e futuro" -
Em troca, o presidente francês se declarou disposto, sobretudo, a orientar a visita para "a juventude e o futuro". Na sexta-feira, ele se reunirá com jovens empreendedores argelinos e em seguida irá para Oran (oeste), segunda maior cidade do país, onde assistirá a uma exibição de 'breakdance'.
Nas ruas de Argel, o presidente francês foi recebido com prudência.
"Dizemos a Macron, 'bem-vindo à Argélia''", declarou Remdhan Elbaz, um aposentado de 60 anos, que relativizou: "se os interesses são comuns, estamos de acordo, mas se só [beneficiam] a parte francesa, então não".
Os historiadores franceses estimam em meio milhão o número de mortos - civis e combatentes - durante a guerra de independência, entre eles 400.000 argelinos. Argel considera que a cifra tenha chegado a 1,5 milhão.
Grupos de defesa dos direitos humanos argelinos instaram Macron a não passar por cima dos abusos das autoridades desde a chegada ao poder de Tebboune, em 2019, depois que um movimento de protesto obrigou seu antecessor, Abdelaziz Bouteflika, a se demitir.
* AFP