A Procuradoria-Geral da Nicarágua anunciou nesta segunda-feira (31) a reabertura dos julgamentos contra 46 opositores do governo Daniel Ortega, incluindo sete ex-pré-candidatos presidenciais, presos por acusações como "derrogação da integridade nacional" e lavagem de dinheiro.
A partir de 1º de fevereiro serão realizados "os julgamentos orais e públicos dos acusados que estão na Diretoria de Assistência Judiciária (DAJ)", conhecida como El Chipote, "e daqueles que estão em prisão domiciliar", disse a Procuradoria em um comunicado.
Vários processos tiveram início em setembro de 2021, mas foram posteriormente interrompidos, sem que os motivos fossem explicados.
Os primeiros opositores a serem julgados na terça-feira serão os ativistas Jader Parajón e Yaser Vado. Na quarta e na quinta será a vez da líder do Movimento União Democrata Renovadora (Unamos), Ana Vigil, e da ex-guerrilheira e historiadora Dora María Téllez, de acordo com relatos de familiares dos presos.
O Ministério Público não informou o local dos julgamentos ou se as famílias e a imprensa terão acesso.
Os opositores foram presos entre julho e dezembro, a maioria antes das eleições de novembro, quando Ortega obteve seu quarto mandato consecutivo. São processados "por derrogar a integridade nacional, por terem recebido recursos de fontes estrangeiras para cometer crimes de lavagem de dinheiro, bens e ativos", indicou a Procuradoria.
Entre os presos estão líderes políticos, estudantes, jornalistas, empresários e membros da sociedade civil considerados pela Procuradoria "criminosos e delinquentes (...) que promoveram e dirigiram atos terroristas e uma tentativa de golpe de Estado em 2018".
Naquele ano, milhares de pessoas participaram de protestos contra o governo Ortega que foram reprimidos à força com um saldo de 355 mortos, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Além disso, os detidos são acusados de incitar a ingerência estrangeira, propor bloqueios econômicos e comerciais, bem como pedir a intervenção armada de potências como os Estados Unidos, e celebrar a imposição de sanções ao país.
Recentemente, os familiares dos presos denunciaram uma deterioração acelerada de sua saúde física e mental. Diante da situação, fizeram um apelo pelo diálogo com a participação das forças políticas, da igreja e do governo para conseguir a libertação de seus parentes.
A iniciativa foi apoiada na semana passada pela cúpula empresarial, que se mostrou a favor de um diálogo sem "condições prévias" para facilitar a libertação dos presos, incluindo três de seus diretores.
A estes detidos somam-se outros 124 opositores presos no contexto da crise política de 2018.
* AFP