Manifestantes pró-democracia bloquearam nesta sexta-feira (31) as ruas de Cartum, a capital do Sudão, em protesto pela violência estatal que ontem deixou cinco mortos e provocou reprovação da comunidade internacional.
Os participantes do protesto ergueram barricadas nas estradas do distrito de Burri, no leste de Cartum, e também em Cartum Norte, utilizando pedras, galhos de árvores e pneus, informou um jornalista da AFP.
O Sudão está afundado em uma crise desde o golpe de Estado do general Abdel Fattah al Burhan em 25 de outubro, o mesmo dia em que o primeiro-ministro Abdalla Hamdok foi afastado e preso.
Após um acordo com os militares, Hamdok voltou ao cargo em 21 de novembro, mas os protestos continuaram.
Durante as manifestações de ontem, que reuniram milhares de pessoas em Cartum e cidades vizinhas, as autoridades cortaram as telecomunicações no país e reprimiram os protestos com disparos de munição real e bombas de gás lacrimogênio.
Além disso, a imprensa denunciou que foi alvo de ataques e assédio. Nesta sexta-feira, dois jornalistas do canal de televisão saudita Asharq foram liberados após permanecerem detidos por várias horas, segundo o próprio canal.
Segundo um sindicato de médicos pró-democracia, quatro manifestantes morreram a tiros em Omdurman, cidade-gêmea a Cartum. Hoje, uma quinta pessoa morreu no hospital após não resistir aos ferimentos.
Até agora, a repressão iniciada há dois meses já deixou 53 mortos, de acordo com esse mesmo sindicato, que também denunciou ontem que os agentes de segurança impediram a passagem de ambulâncias e retiraram um ferido a força de dentro de um desses veículos.
No contexto da violenta repressão de quinta-feira, o ministro interino da Saúde, Haitham Mohammed, renunciou hoje do cargo, denunciando ataques contra médicos e hospitais.
Um membro civil recentemente nomeado para o Conselho Soberano no poder, Abdel Baqi Abdel Qader, também assinalou hoje que deixará o cargo.
* AFP