Os manifestantes sudaneses contra o golpe de Estado montaram neste domingo (31) barricadas nas ruas de Cartum, um dia depois da sangrenta repressão aos protestos civis contra a tomada do poder pelos militares, há uma semana.
Dezenas de milhares de pessoas em todo o país marcharam no sábado contra o golpe militar de 25 de outubro liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o governo, declarou estado de emergência e prendeu os líderes civis.
Esta ação provocou condenação internacional. Imediatamente, as potências mundiais exigiram um rápido retorno ao governo civil e pediram aos militares "contenção" contra os manifestantes.
Pelo menos três pessoas foram mortas a tiros e mais de 100 ficaram feridas durante as manifestações de sábado, de acordo com fontes da saúde, que relataram que os mortos tinham ferimentos a bala na cabeça, peito ou estômago.
O número de mortos aumentou para pelo menos 11 desde o início dos protestos.
"Não, não, ao governo militar", gritavam os manifestantes agitando bandeiras sudanesas enquanto marchavam pela capital e outras cidades.
Mais de 100 pessoas também ficaram feridas no sábado, algumas delas com problemas respiratórios devido ao gás lacrimogêneo, informou o Comitê Central de Médicos do Sudão, independente.
O país africano era governado desde agosto de 2019 por um conselho civil-militar, sob as ordens do primeiro-ministro Abdalla Hamdok, para conseguir uma transição democrática.
Hamdok e outros líderes estão detidos ou em prisão domiciliar desde o golpe.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chamou o golpe de "sério revés", enquanto a União Africana suspendeu o país por "tomada inconstitucional do poder".
O Banco Mundial e os Estados Unidos congelaram a ajuda, medida que afetará duramente um país já mergulhado em uma grave crise econômica.
Mas Burhan, que se tornou líder de fato depois que o ex-presidente Omar al-Bashir foi deposto em 2019, após enormes protestos liderados por jovens, insiste que a tomada militar "não foi um golpe".
Em vez disso, Burhan diz que quer "retificar o curso da transição sudanesa".
As manifestações de sábado abalaram muitas cidades do Sudão, incluindo aquelas nos estados orientais de Gedaref e Kassala, bem como no Kordofan do Norte e no Nilo Branco, de acordo com testemunhas e correspondentes da AFP.
Com o cair da noite, muitos protestos diminuíram em Cartum e em sua cidade gêmea, Omdurman. Mas, na manhã deste domingo, os manifestantes voltaram às ruas, usando pedras e pneus para bloquear as estradas.
As lojas continuam fechadas em Cartum, onde muitos funcionários do governo se recusam a trabalhar em protesto.
Soldados do exército e as temidas Forças de Apoio Rápido paramilitares foram vistos em muitas ruas de ambas as cidades.
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* AFP