Com a redução da violência este ano na Líbia, o número de migrantes africanos que tentam viajar para a Europa e são interceptados no mar dobrou, na comparação com o mesmo período de 2020.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) informou que 20.257 pessoas foram interceptadas no mar e devolvidas à Líbia desde o início do ano.
Este país do norte da África é um dos principais pontos de saída para dezenas de milhares de migrantes, principalmente da África Subsaariana, que tentam fazer a arriscada travessia pelo Mediterrâneo.
Muitos tentam alcançar a costa italiana, a 300 km de distância.
Uma autoridade do setor naval, que pediu para não ser identificada, disse à AFP que aconteceu "um aumento de 100% nas saídas de janeiro a julho", em relação ao mesmo período em 2020.
O advogado Anwar al Werfalli, especialista em legislação migratória, atribui o aumento "em particular ao fim dos combates" na Líbia.
A revolta de 2011 que acabou com a ditadura de Muamar Khadafi levou o país a um cenário de caos e a vários anos de combates entre milícias.
Uma trégua mediada pela ONU em outubro de 2020 é respeitada de maneira geral, o que permitiu a posse de um governo de transição este ano.
Werfalli afirma que isto criou certa "estabilidade que, mesmo relativa, estimula os migrantes a fazerem a travessia".
A viagem pelo Mediterrâneo entre Líbia e Itália, ou Mala, é a mais perigosa do mundo, de acordo com dados da OIM.
A tragédia mais recente aconteceu no mês passado, quando pelo menos 57 migrantes se afogaram.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) informou que mais de 10.000 migrantes e refugiados chegaram à Itália nos primeiros quatro meses de 2021, um aumento de 170% na comparação com o mesmo período de 2020.
Werfalli disse que os traficantes de pessoas aumentaram as operações "para compensar a queda de atividade durante os meses de confinamento" pela pandemia da covid-19.
Miloud el Hajj, professor de Relações Internacionais, disse à AFP que os criminosos exploraram o conflito na Líbia a ponto de transformar o país em uma base para o tráfico de pessoas.
Ao mesmo tempo, a Guarda Costeira da Líbia foi acusada de maus-tratos.
No fim de junho, a organização alemã Sea-Watch divulgou imagens aéreas do que afirmou ser um navio da Guarda Costeira líbia, atirando a dois ou três metros da proa de um barco com quase 50 migrantes.
Abdel Rahman al-Mahmoudi, ex-oficial da Marinha líbia, disse que o país "precisa de ajuda internacional para enfrentar o fluxo interminável de migrantes".
União Europeia e Itália financiaram, treinaram e equiparam durante anos as forças líbias para que atuem contra os traficantes de pessoas.
Os migrantes interceptados no mar e devolvidos à Líbia são levados para centros de detenção, onde enfrentam condições deploráveis.
A lei marítima internacional estabelece que as pessoas resgatadas no mar devem ser levadas para um porto seguro, mas a ONU considera que os portos líbios não se enquadram nesta categoria.
A Líbia afirma que não tem recursos e funcionários para enfrentar o problema.
* AFP