A equipe sênior do movimento Talibã se encontra, neste sábado (21), na capital do Afeganistão para negociar um futuro governo "inclusivo", enquanto o desespero de milhares de pessoas cresce, ainda à espera de deixarem o país em uma caótica operação de evacuação.
Um líder do Talibã disse à AFP que o co-fundador do grupo, o mulá Abdul Ghani Baradar, chegou a Cabul "para manter negociações com líderes dos combatentes extremistas e com responsáveis políticos para formar um governo inclusivo".
Autoridades talibãs informaram que esses encontros incluem altos líderes da rede Haqqani, considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos, que oferece milhões de dólares pelos seus líderes.
Detido entre 2010 até 2018, Baradar trabalhou desde então como chefe do escritório do Talibã em Doha, participando das negociações e da assinatura do acordo de retirada dos Estados Unidos.
Redes sociais pró-Talibã mostraram seu líder Khalil Haqqani junto a Gulbuddin Hekmatyar, considerado um dos chefes de guerra mais cruéis por bombardear Cabul durante a guerra civil (1992-1996).
Hekmatyar, apelidado "o carniceiro de Cabul", era um rival dos talibãs antes deles chegarem ao poder entre 1996 e 2001, um regime marcado por extrema crueldade, especialmente contra as mulheres.
Essas mesmas redes anunciaram horas depois que Ahmad Masud - filho do comandante Ahmad Shah Masud, conhecido pela sua oposição ao grupo fundamentalista - era "leal" aos talibãs.
Ahmad Masud, que nesta semana pediu armas aos Estados Unidos para se defender do novo poder Talibã na cidade de Panshir (ao nordeste de Cabul), ainda não se pronunciou oficialmente a respeito.
- "Para onde vou?" -
Seis dias depois que os talibãs tomaram o poder no Afeganistão, o fluxo de pessoas que tentam fugir de seu regime islâmico preocupa a comunidade internacional.
As ruas que levam ao aeroporto estavam lotadas pelo trânsito, pedestres e postos de controle, enquanto as famílias esperam um milagre para chegarem ao local, protegido com arame farpado.
O vídeo de um soldado americano que levantou um bebê sobre um muro no aeroporto de Cabul foi o mais recente retrato do desespero vivido por milhares de afegãos, depois das imagens de terror de pessoas penduradas nos aviões em plena decolagem.
"Por favor, por favor, me ajude, para onde vou? O que devo fazer?", escreveu um homem que disse ter trabalhado anos atrás na embaixada dos EUA, em um grupo de WhatsApp no qual as pessoas compartilham informações sobre como sair.
Os militares americanos e uma brigada das forças especiais afegãs estavam em alerta para evitar que os civis invadam o aeroporto. Atrás deles, os talibãs observam a situação.
Os Estados Unidos pediram, neste sábado, aos seus cidadãos que evitem por enquanto ir até o aeroporto de Cabul, citando "potenciais ameaças à segurança" perto de seus portões.
O presidente americano, Joe Biden, admitiu no dia anterior que a presença dos soldados não garante uma passagem segura.
"Esta é uma das maiores e mais difíceis pontes aéreas da história", expressou Biden em um discurso. "Não posso prometer qual será o resultado".
Na Espanha, a chefe da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, pediu aos países da União Europeia (UE), que também participam da operação de retirada, para receberem refugiados afegãos.
- Funcionários sem acesso -
Biden estabeleceu 31 de agosto como prazo para completar a retirada das tropas do Afeganistão, mas alertou que pode se estender para continuar a evacuação.
Cerca de 13.000 pessoas saíram em aviões militares americanos, segundo a Casa Branca, e outras milhares saíram em aviões de outros países. Washington planeja evacuar 30.000.
A crise lançou dúvidas sobre a posição dos Estados Unidos como superpotência mundial e sua capacidade de ajudar seus aliados no mundo.
Os talibãs tomaram Cabul na semana passada, após duas décadas de conflito, depois que Biden ordenou retirar todas as tropas americanas do Afeganistão.
Eles prometeram ser "positivamente diferentes" de seu governo anterior, muito lembrado pela sua interpretação rigorosa do Islã.
Também prometeram não se vingar de seus adversários e oferecer uma anistia geral para quem trabalhou com o governo apoiado por Washington.
No entanto, impediram os funcionários do governo afegão na capital de retornarem ao trabalho neste sábado, o primeiro dia útil da semana de trabalho.
Apesar das suas promessas, um documento de inteligência da ONU apontou que os militantes estão indo de porta em porta à procura de pessoas que trabalharam para os americanos ou para a Otan.
Segundo este documento, ao qual a AFP teve acesso, eles também estão revistando as pessoas que vão para o aeroporto de Cabul.
* AFP