Com ajuda internacional, bombeiros e voluntários locais continuam lutando nesta quinta-feira (12), sem descanso, contra as chamas que arrasam o norte da Argélia, no primeiro dos três dias de luto nacional decretados em memória dos 71 mortos nestes incêndios agravados por uma onda de calor.
Vegetação queimada, gabo moribundo, cidades cercadas pelas chamas: os incêndios semearam a desolação ao passarem por Cabília, uma região a leste e sudeste da capital Argel.
Divulgado na quinta-feira, o último balanço oficial de vítimas é de 43 civis e 28 militares mortos neste país do norte da África, exposto a uma onda de calor.
O serviço de proteção civil informou, nesta quinta-feira, "92 incêndios distribuídos em 16 wilayas (prefeituras)", alguns perto da fronteira com a Tunísia, também vítima do calor extremo e do fogo.
Em um breve discurso televisionado na quinta-feira, o presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, anunciou a prisão de 22 suspeitos acusados de serem incendiários, 11 deles em Tizi Uzu, a grande cidade de Cabília.
Tebboune acusou indiretamente os independentistas daquela região, habitualmente em confrontos com o poder central, de querer aproveitar a catástrofe para dividir o país.
Na prefeitura de Tizi Uzu, onde houve mais mortes, as imagens de um fotógrafo da AFP mostram áreas inteiras de floresta completamente carbonizadas.
Ao voltarem para suas casas, os moradores evacuados da região constatam a magnitude da devastação: "Não sobrou nada. Meu escritório, meu carro, meu apartamento. Até as telhas estão destruídas", conta um deles à AFP.
Seu único consolo é pensar que conseguiu salvar sua família, já que "alguns vizinhos morreram, ou perderam familiares".
- Linchamento de suposto incendiário -
As bandeiras estavam hasteadas a meio mastro nesta quinta-feira, depois do decreto três dias de luto nacional sancionado ontem pelo presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune.
A ajuda internacional começou a chegar, como os dois aviões alugados da União Europeia que pousaram hoje no aeroporto da capital, informou a agência de notícias APS.
Na quarta-feira, a França anunciou que enviará dois aviões de combate a incêndios e um avião de comando. Marrocos, o país vizinho com o qual a Argélia tem relações complicadas, disse estar pronto para enviar dois aviões.
Na Argélia, o trauma pelos incêndios é imenso. "Indivíduos e associações se mobilizam sem descanso para organizarem doações de roupa, alimentos, medicamentos e produtos de higiene", segundo o portal TSA.
As autoridades argelinas investigam uma possível origem para os incêndios. Quatro "incendiários" foram detidos, mas as autoridades não divulgaram mais detalhes até o momento.
A Justiça abriu uma investigação sobre as circunstâncias da morte de um homem acusado de ser um incendiário.
Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram "uma multidão indignada" agredindo o homem "até a morte", segundo a ONG Anisitia Internacional.
Os incêndios florestais são comuns no norte da Argélia. Em 2020, cerca de 44.000 hectares foram queimados.
A área do Magreb enfrenta uma onda de calor extremo, com temperaturas próximas dos 50°C, que podem se prolongar até o fim de semana, de acordo com diferentes serviços meteorológicos.
Tunísia, vizinha do leste da Argélia, registrou na quarta-feira um recorde absoluto de temperatura no país, 50,3ºC, em Kairouan (centro), registrando desde segunda-feira trinta incêndios que forçaram várias evacuações.
Oito deles continuam ativos nesta quinta-feira, especialmente nas regiões montanhosas do noroeste e do centro.
Nas margens do Mediterrâneo, Grécia, Turquia e Itália também enfrentaram o fogo.
* AFP