Um policial de Atlanta foi denunciado pelo homicídio de Rayshard Brooks, o afro-americano de 27 anos que morreu após ser atingido por tiros disparados por este agente em um estacionamento, anunciou nesta quarta-feira (17) o promotor do distrito, Paul Howard.
Howard disse que Garrett Rolfe não tinha justificativa para atirar porque, "no momento em que Brooks foi abatido, não representava ameaça imediata de morte ou ferimentos físicos graves para os policiais". O promotor acrescentou que constitui agravante o fato de, após abrir fogo, Rolfe ter chutado o corpo de Brooks enquanto ele estava no chão, sangrando.
Segundo o promotor, Rolfe e seu colega Devin Brosnan violaram múltiplas normas do departamento de polícia após deter o homem, a quem encontraram dormindo em seu carro, bloqueando o acesso de veículos a um restaurante da rede de fast food Wendy's, em 12 de junho.
O caso ocorreu em meio a uma comoção social em todos os Estados Unidos pela morte de George Floyd, afro-americano morto por asfixia por um policial branco quando estava algemado e imobilizado no chão, em 25 de maio, em Minneapolis.
A morte de Floyd gerou protestos, que em alguns casos resultaram em distúrbios e saques, em reivindicação ao fim da violência policial e do racismo. Após a divulgação da morte de Brooks, novos protestos e marchas antirracistas foram registrados.
As denúncias contra Rolfe, que foi demitido da força policial no dia seguinte aos fatos ocorridos no estacionamento, podem resultar em pena de morte ou de prisão perpétua. Brosnan, que concordou em colaborar como testemunha para o Estado na investigação do caso, enfrentará três acusações, inclusive de agressão com agravante.
Após a modesta reforma policial decretada pelo presidente Donald Trump, senadores republicanos apresentaram nesta quarta um projeto de lei para acabar com as "chaves de estrangulamento" e mudar a formação dos agentes policiais.
Mas o texto não aborda a ampla imunidade de que desfrutam os policiais, precisamente um dos principais motivos de descontentamento daqueles que protestaram no país após a morte de Floyd.
O caso Brooks
Rolfe e Brosnan foram ao estacionamento após receberem um telefonema de funcionários da rede de restaurantes, que se queixaram que Brooks tinha dormido ao volante do carro e bloqueava o acesso dos carros no estacionamento.
Na abordagem, Brooks tinha se mostrado "cordial" e "cooperativo", segundo o promotor, mas a situação se deteriorou após mais de 40 minutos de conversa quando os policiais tentaram detê-lo. Então, Brooks roubou a pistola taser, uma arma não letal, de um dos agentes, fugiu e Rolfe efetuou os disparos.
Em um vídeo da detenção, é possível ver o policial chutando a vítima, caída no chão. Segundo Howard, "isso não reflete sentimento de medo do senhor Brooks, mas outro tipo de emoção". O promotor destacou um fato pouco comum: o segundo agente, Brosnan, aceitou cooperar com a Justiça e depor contra Rolfe. O advogado da viúva de Brooks, Chris Stewart, o agradeceu pela coragem.
— São agentes como este que vão mudar a polícia — declarou.
Para conseguir reformas nos Estados Unidos, o irmão de George Floyd se dirigiu às Nações Unidas.
— Os senhores têm o poder de nos ajudar a obter justiça — disse Philonise Floyd em um vídeo divulgado durante um debate excepcional do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra. — A forma como meu irmão foi torturado e morreu diante de uma câmera é a forma como a polícia trata as pessoas negras nos Estados Unidos.