O município de Ponta Porã, onde o Ministério Público Federal (MPF) decidiu fechar o seu prédio sob o argumento de que há "níveis críticos de violência", é uma cidade com forte presença gaúcha – resultado das levas de colonos que chegaram para explorar a nova fronteira agrícola e ajudaram a desenvolver a região. Segundo o passo-fundense Leomar Dal Molin, que migrou em 1985 e hoje é patrão do CTG Querência da Saudade, mais da metade dos moradores locais veio do Rio Grande do Sul ou são filhos de gaúchos.
À frente de uma entidade tradicionalista que soma 600 frequentadores regulares, Dal Molin afirma que a comunidade não está aceitando bem a saída do Ministério Público.
– Por enquanto, poucos estão sabendo, mas isso gera uma insegurança. Se as autoridades estão saindo, imagina o povo.
Dal Molin reconhece os problemas de violência na região, mas sustenta que a população que não se envolve com atividades ilícitas não tem motivos para se amedrontar.
– Se cada um tocar sua vida normal, não tem problema. A pessoa não se sente amedrontada.
Filho de gaúchos, Martinho da Cunha, 29 anos, reside em Ponta Porã e estuda Medicina em Pedro Juan Caballero, do outro lado da fronteira. Embora se fale bastante da violência na região, observa ele, a situação não é diferente da vivida em outras cidades brasileiras.
– É uma região complicada, ocorrem assassinatos praticamente todas as semanas, porém, na grande maioria, são pessoas envolvidas no tráfico ou inseridas nesse meio das facções. Para nós, a população em geral, fica o espanto com os acontecimentos. Eu vivo na cidade desde 2013 e nesse período em pouquíssimas ocasiões uma pessoa não envolvida nesse mundo foi morta.
O estudante de Medicina lamenta a saída do Ministério Público, mas não acredita que isso tenha impacto para a população:
– Nunca é bom ver o Estado se ausentar por falta de segurança. Chega a ser vergonhoso! Porém no dia a dia eu creio que muda pouco.