Quatro manifestantes foram mortos a tiros nesta quinta-feira (1º), em um ato em Omdurman, "cidade gêmea" de Cartum sobre a outra margem do Nilo - informou um comitê de médicos ligado ao movimento de protesto.
Segundo um comunicado desse comitê, "quatro manifestantes foram mortos a tiros, e vários outros ficaram feridos em um comício em Omdurman".
Milhares de pessoas foram às ruas em várias cidades sudanesas, nesta quinta, para protestar contra os seis mortos em manifestações nos últimos dias.
"Onde está a comissão de investigação?", gritavam os manifestantes pelas ruas de Burri e Bahri, dois focos de protesto, em Cartum.
Na capital, muitos manifestantes levavam bandeiras e fotografias dos manifestantes mortos desde dezembro passado, quando os protestos começaram. Também houve marchas em Al Obid, Madani (centro), Porto Sudão, uma cidade às margens do mar Vermelho, e no estado do Nilo Branco (sul).
As quatro mortes desta quinta ocorreram poucas horas antes da retomada oficial das negociações entre o governo e figuras da sociedade civil. O objetivo dessa tentativa de diálogo é concluir alguns pontos sobre a instauração de um Conselho Soberano composto por cinco militares e por seis civis para liderar a transição por pouco mais de três anos.
As negociações entre o Conselho Militar de Transição e a Aliança para a Liberdade e a Mudança deveriam ter sido retomadas na terça. Acabaram suspensas, porém, depois de os negociadores do movimento civil decidirem ir para a cidade onde seis manifestantes, cinco deles estudantes de Ensino Médio, foram mortos no início da semana.
Nesta quinta-feira, os militares anunciaram a retomada do diálogo, o que foi confirmado pelos líderes dos protestos.
"Começamos a sessão de negociações agora" com os generais, anunciou Satea Al Haj, um dos líderes do movimento de contestação.
As negociações visam esclarecer alguns pontos em aberto após o acordo firmado em 17 de julho para que militares e civis compartilhem o poder. O pacto prevê o estabelecimento de um Conselho Soberano composto por cinco militares e seis civis para dirigir a transição durante cerca de três anos.
Na segunda-feira, os sudaneses protestavam contra a escassez de pão e de combustível em Al-Obeid, no estado de Cordofão do Norte (centro). Seis morreram, e 60 ficaram feridos.
Membro do Conselho de Transição Militar que dirige o país desde a destituição do presidente Omar al-Bashir em abril, o general Jamal Omar acusou os paramilitares das temidas Forças de Apoio Rápido (RSF) de terem atirado na multidão.
Na quarta à noite, o general Omar também acusou as RSF de terem reprimido a manifestação de Al-Obeid com cassetetes, uma "ação que fez alguns estudantes reagirem, atirando pedras contra as forças" de segurança.
"Isso levou membros das forças a agir individualmente e atirar nos manifestantes. Identificamos quem atirou balas reais e provocou a morte dos seis", completou.
Os suspeitos foram entregues às autoridades, disse a agência oficial Suna, sem especificar quantos. Foram exonerados e serão julgados, acrescentou a mesma fonte.
Os líderes dos protestos também acusaram as RSF, dirigidas por Mohamed Hamdan Daglo (número dois do Conselho militar), e convocaram uma "marcha de um milhão" de pessoas para "obter justiça".
* AFP