Milhares de pessoas foram às ruas neste domingo (18) em Hong Kong, desafiando a polícia e uma chuva tropical, e demonstrando que o protesto continua popular, apesar dos episódios de violência e da ameaça de intervenção de Pequim.
A mobilização, que começou em junho e não tem precedentes na ex-colônia britânica, teve sua imagem manchada esta semana por cenas de violência depois de cinco dias de paralisação no aeroporto local.
Para acabar com as acusações de "terrorismo" que surgiram em Pequim, a Frente de Direitos Civis (FCHR) organizou uma manifestação não violenta para este domingo.
A organização alegou que mais de 1,5 milhão de manifestantes compareceram, um número surpreendente, tanto pela necessidade de espaço disponível para reunir tamanha multidão, quanto pelo fato de que Hong Kong tem 8 milhões de habitantes.
Do outro lado, a polícia disse que 128 mil pessoas se reuniram no Victoria Park, no coração da ilha. As autoridades não incluíram em sua estimativa as pessoas que estavam nas ruas adjacentes ao parque.
— Foi um longo dia e estamos muito cansados, mas ver tantas pessoas caminhando por Hong Kong na chuva dá força a todos — disse um dos manifestantes, Danny Tam, 28 anos.
No começo da tarde, a multidão se concentrou sob uma chuva torrencial, formando um mar de guarda-chuvas coloridos. Os manifestantes marcharam em seguida para o distrito do Almirantado, mais a Oeste, desafiando a proibição da polícia, que permitia apenas uma manifestação estática no parque.
Na noite deste domingo, centenas de encapuzados marcharam em volta da sede do governo, cantando: "Vamos tomar Hong Kong, a revolução do nosso tempo".
"A polícia deixa feridos"
O lema da manifestação denunciava mais uma vez a violência policial.
— A forma como a polícia tem agido está totalmente fora de lugar — afirmou James Leung, um dos participantes.
Outros reconheceram um aumento na violência entre os manifestantes, que, em sua versão mais radical, não hesitaram em lançar pedras e coquetéis molotov nessas últimas semanas.
— Alguns têm uma maneira extrema de expressar seus pontos de vista — admitiu Ray Cheng, 30 anos.
— Eu sou contra a violência — explicou a senhora Wong, 54 anos. — Mas o que os radicais fazem é quebrar vidros, não machucam ninguém, enquanto a polícia deixa feridos — denunciou.
Radicalização
Esta é a pior crise política na ex-colônia britânica desde sua devolução à China em 1997. Pequim elevou o tom, qualificando os atos mais violentos dos manifestantes de "quase terroristas".
Com início em junho para rejeitar um projeto de lei controverso que autoriza extradições para a China, desde então, a mobilização ampliou suas reivindicações para pedir um verdadeiro sufrágio universal. Internamente, aumenta o temor de uma crescente interferência da China.
Dez semanas após a primeira manifestação, o movimento praticamente não obteve respostas do Executivo pró-Pequim, sediado em Hong Kong. Essa ausência de avanços empurrou o movimento para ações mais contundentes, como o bloqueio do aeroporto internacional na semana passada, quando centenas de voos tiveram de ser cancelados.
A propaganda chinesa tem registrado recorrentemente imagens de violência com a intenção de desacreditar o protesto. Os veículos chineses também difundiram imagens de soldados e transportes de blindados para o outro lado da fronteira, em Shenzhen.
O movimento de protesto não cede, apesar da detenção de mais de 700 pessoas em mais de dois meses de manifestações.
No sábado (17), os protestos começaram com uma marcha de milhares de professores para apoiar o movimento pró-democracia, em grande parte motivado por jovens militantes. Na parte da tarde, uma multidão ainda maior reuniu-se para ir a Hung Hom e a To Kwa Wan, dois bairros populares de portos frequentados por turistas chineses do continente.
Ao mesmo tempo, milhares de apoiadores do governo se reuniram em um parque para denunciar o movimento e apoiar a polícia.