A catedral de Notre-Dame, em Paris, parcialmente arrasada por um incêndio nesta segunda-feira (15), guarda várias relíquias veneradas pelos católicos, um órgão de notáveis dimensões e numerosas obras de arte. Ainda não há um balanço definitivo do que foi salvo das chamas.
— Os colaboradores de Notre-Dame, os arquitetos do patrimônio da França e os funcionários do Ministério da Cultura foram mobilizados para orientar os bombeiros e mostrar as obras que a todo preço deveriam ser salvas — afirmou nesta terça-feira (16) o secretário do Estado de Interior, Laurent Nuñez.
Nos saques e pilhagens que ocorreram no local durante a Revolução Francesa e nos motins de 1831, esta joia de estilo gótico já havia perdido parte de suas obras-primas. Seu tesouro litúrgico, que era um dos mais ricos da França até desaparecer em 1789, foi sendo reconstruído pouco a pouco.
Relíquias
A réplica mais valiosa guardada na Notre-Dame é a Santa Coroa, que os católicos acreditam que foi usada por Jesus pouco antes de ser crucificado. Ela é composta de um "círculo de juncos unidos por fios de ouro, com um diâmetro de 21 centímetros", segundo o site da catedral.
Esta relíquia escapou das chamas desta segunda, assim como a túnica de São Luís, um dos reis mais famosos da França, que também é guardada na catedral. Além da Santa Coroa, Notre-Dame conserva outras duas relíquias da Paixão de Cristo: um pedaço da Cruz e um cravo.
Por outro lado, o galo que ficava no topo da torre que caiu nesta segunda-feira trazia a Coroa de Espinhos, uma relíquia de San Dionísio e outra de Santa Genoveva.
O grande órgão
Entre os três órgãos de Notre-Dame, o grande órgão, com seus cinco teclados e cerca de 8 mil tubos, é o maior destaque. Construído a partir do século 15, o órgão foi sendo ampliado progressivamente, até alcançar seu tamanho atual no século 18.
Sobreviveu à Revolução Francesa sem danos "com certeza graças à interpretação de músicas patrióticas", segundo o site da catedral.
As rosáceas
As três rosáceas da Notre-Dame de Paris, os vitrais que representam as flores do paraíso, foram construídas no século 13 e foram reformadas várias vezes. As rosáceas norte e sul, as maiores, têm diâmetro de 13 metros.
Nelas estão representados profetas, santos, anjos, reis, cenas da vida dos santos... No centro das três rosáceas estão as imagens da Virgem Maria, do Menino Jesus e da Ascensão de Cristo.
37 representações da Virgem Maria
A mais famosa das 37 representações da Virgem Maria que existem na catedral é da Virgem Maria com o Menino Jesus que ficava na ala sudeste do templo, esculpida no século XIV.
Atrás do altar fica a monumental estátua do escultor Nicolas Coustou, uma Piedade encomendada por Luís XIV seguindo o desejo de seu pai, Luís XIII, e realizada entre 1712 e 1728.
Na quinta-feira passada, foram retiradas do templo 16 estátuas de cobre que representam os 12 apóstolos e os quatro evangelistas para serem restauradas, e assim foram salvas do incidente.
Os "grands Mays"
Entre 1630 e 1707, um grupo de ourives parisienses doava uma pintura à catedral todo dia 1º de maio. Destes 76 "grands Mays", 13 estão atualmente nas diferentes capelas da nave central.
No muro oeste da Capela de Saint-Guillaume fica um dos quadros mais belos da catedral, "La Visitation", de Jean Jouvenet (1716), uma obra-prima do século XVIII e o coro barroco da catedral.
O sino de Bourdon
Na torre sul fica o maior sino da catedral, chamado Bourdon, utilizado apenas nas grandes festas católicas e nos grandes eventos.
O Bourdon foi fundido há 300 anos e recebeu o nome de Emmanuel de seu padrinho, Luís XIV. Pesa 13 toneladas e seu badalo, a parte que toca nas as paredes internas do sino para produzir o som, pesa 500 quilos.
No século 20 foi acionado para avisar aos parisienses sobre a libertação da capital do jugo nazista, no dia 24 de agosto de 1944.