Milhares de pessoas tomaram nesta sexta-feira (8) as ruas do centro de Argel para protestar contra a intenção do presidente Abdelaziz Bouteflika de disputar um quinto mandato nas eleições de abril.
A mobilização, maciça e difícil de estimar, teve uma participação claramente superior às outras manifestações em Argel, que já foram impressionantes.
No centro da capital, a praça da Grande Poste, onde fica o prédio do escritório central dos correios, ficou lotada, assim como uma das principais vias de Argel, que desembola ali e nas ruas dos arredores.
As manifestações coincidem com as celebrações do Dia Internacional da Mulher, comemorado neste 8 de março. Muitas mulheres estavam entre os manifestantes.
Após o fim das orações de sexta-feira, as pessoas continuaram chegando à grande praça.
Os policiais se limitaram a observar. Várias caminhonetes da polícia tiveram que deixar a praça devido à maré humana concentrada no local.
As manifestações anteriores foram todas pacíficas, com exceção de alguns enfrentamentos entre pequenos grupos e a Polícia em Argel.
Em outras cidades do país também foram celebradas manifestações maciças e pacíficas, como em Oran e Constantina, segunda e terceira cidades da Argélia, segundo o site informativo TSA, que evoca também uma multidão "impressionante" em Bugia, na região de Cabilia.
Segundo fontes de segurança, veículos de comunicação argelinos e redes sociais, também houve importantes manifestações em várias cidades do país.
Os manifestantes se dispersaram em calma e as ruas ficaram vazias à noite. Foram registrados alguns confrontos entre pequenos grupos e a Polícia, como ocorrido ao final de cada manifestação nas semanas anteriores.
"Não ao quinto mandato de Buteflika!" é a palavra de ordem dos manifestantes.
O motoristas fizeram um "buzinaço" e vários habitantes colocaram a bandeira nacional - verde e branca com uma estrela vermelha - na janela de sua residência.
Os protestos coincidem com a celebração do 8 de março, Dia Internacional da Mulher, e muitas mulheres devem participar das marchas, que foram mobilizadas para depois a grande oração semanal dos muçulmanos às sextas-feiras.
Antes deste novo dia de manifestação, muitos carros da polícia foram mobilizados, bem como veículos anti-motim por toda a capital. As manifestações anteriores, exceto por algumas perturbações isoladas na capital, foram pacíficas e sem incidentes.
Nas redes sociais, a hashtag "#Mouvement_du_8_Mars" (#movimento de 8 de março) se espalhou nos últimos dias, convocando a mobilização da população nas principais cidades da Argélia.
Em Argel, também foram organizados em redes sociais os chamados grupos de "braçadeiras verdes", voluntários que são responsáveis por orientar e monitorar os participantes para evitar incidentes e dar primeiros socorros em caso de uso de gás lacrimogêneo, além de limpar as ruas após a manifestação.
Em Genebra, o adversário político do presidente, Rachid Nekkaz, foi preso sexta-feira dentro do hospital onde Bouteflika se encontra internado desde fevereiro.
A polícia de Genebra confirmou a prisão de Nekkaz por invasão de domicílio com a intenção de realizar um ato político.
Nekkaz, um empresário de 47 anos nascido na França, reuniu pela manhã uma manifestação com dezenas de apoiadores diante do Hospital Universitário de Genebra.
- Advertência -
Na véspera, Bouteflika alertou a nação para a possibilidade de "caos" no país ante tantas manifestações.
O presidente de 82 anos está confinado a uma cadeira de rodas desde que sofreu um derrame cerebral em 2013 e raramente aparece em público.
Em sua nota, Bouteflika comemorou o fato de o "pluralismo democrático ser uma realidade no país", mas emitiu um alerta sobre "infiltrações" nos protestos e em função disso pediu cautela.
Bouteflika não fez qualquer menção de sua própria candidatura como um gatilho para os protestos, mas em vez disso fez uma referência sinistra à necessidade de evitar o retorno à "tragédia nacional", referindo-se à sangrenta guerra civil que se arrastou por 10 anos.
A advertência de Bouteflika foi feita no mesmo dia em que milhares de advogados tomaram as ruas da capital, para protestar contra a nova candidatura nas eleições de 18 de abril por causa do delicado estado de saúde do presidente.
O anúncio de sua candidatura em 10 de fevereiro provocou protestos de uma magnitude nunca antes vista contra ele, eleito chefe de Estado há duas décadas.
Apesar de manifestações terem sido proibidas na capital desde 2001, quase todos os dias há protestos em Argel desde 22 de fevereiro.
* AFP