Milharse de estudantes foram às ruas nesta terça-feira, em Argel, para protestar contra o que consideram uma artimanha de Abdelaziz Buteflika depois que o presidente desistiu de se candidatar a um quinto mandato e adiar as eleições.
"Os estudantes resistirão ao prolongamento de um quarto mandato!", gritavam os manifestantes.
"Não à artimanha de Bouteflika!", gritavam ainda os estudantes, que se manifestam pela terceira terça-feira consecutiva através de convocações pelas redes sociais.
Nesta terça-feira, o logotipo inicial das manifestações que começaram em 22 de fevereiro - um "5" dentro de um círculo e riscado em vermelho - se tornou um "4" para protestar contra a extensão do quarto mandato.
Frente a estes protestos inéditos em 20 anos de poder, o presidente de 82 anos anunciou na segunda-feira que desistia de disputar um quinto mandato e o adiamento da eleição presidencial previstas para 18 de abril.
Em uma mensagem à nação, publicada pela agência oficial APS, afirma que a eleição presidencial será realizada no final de uma conferência nacional encarregada de reformar o sistema político e preparar um projeto de Constituição até o final de 2019.
O presidente Bouteflika retornou à Argélia no último domingo depois de duas semanas de internação na Suíça para "exames médicos de rotina".
Ao se comprometer "a entregar os poderes e prerrogativas de presidente da República ao sucessor que o povo argelino escolher livremente", Bouteflika indica implicitamente que seguirá como chefe de Estado até o final de seu mandato, em 28 de abril de 2019.
"Não haverá quinto mandato e nunca foi minha intenção, pois meu estado de saúde e minha idade só permitem o cumprimento de um último dever perante o povo argelino, que é a instalação das bases de uma nova República", declarou Bouteflika nesse texto.
"Não haverá eleição presidencial em 18 de abril", acrescentou o presidente argelino, ressaltando que, desta forma, "satisfaz um pedido insistente que muitos de vocês (argelinos) expressaram".
A próxima eleição presidencial "acontecerá ao final de uma conferência nacional inclusiva e independente (...) bastante representativa da sociedade argelina" que "deverá se esforçar para completar seu mandato antes do final de 2019", acrescentou Bouteflika.
Muitas buzinas de veículos começaram a ser ouvidas no começo da noite no centro de Argel.
Por sua vez, Noureddine Bedoui, até o momento ministro do Interior, foi nomeado primeiro-ministro em substituição a Ahmed Ouyahia, alvo, junto com Bouteflika, dos protestos no país.
Bedoui será encarregado de formar o novo governo, segundo a APS. Ele terá como vice-primeiro-ministro Ramtane Lamamra, nomeado igualmente à pasta das Relações Exteriores.
"É uma artimanha para ganhar tempo, para tentar frear o movimento, para tentar achar uma marionete que será presidente", declarou à AFP Amel, uma estudante de matemática e informática em Argel.
A importância da mobilização na terça-feira será um sinal do sucesso ou fracasso dos anúncios de segunda-feira do chefe de Estado, no poder desde 1999.
Há também manifestações de estudantes em outras cidades, incluindo Annaba (nordeste), muito mobilizada desde o início dos protestos. Nesta cidade, a quarta do país, os estudantes realizaram protestos nos diferentes campi.
* AFP