Em um discurso político em Joanesburgo, na África do Sul, nesta terça-feira (17), por ocasião do centésimo aniversário do nascimento de Nelson Mandela, o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama lançou ataques velados a seu sucessor, Donald Trump, criticando as políticas migratórias baseadas "na raça" e os políticos que "não param de mentir".
No discurso, Obama tomou o cuidado de não nomear o atual inquilino da Casa Branca, mas suas inúmeros alusões a Trump agitaram o estádio Wanderers, onde a homenagem era realizada.
— Dada a época incerta e estranha em que vivemos, as notícias nos trazem a cada dia manchetes perturbadoras que fazem nossa cabeça girar — disse o ex-presidente dos Estados Unidos no início de seu discurso, diante de mais de 10 mil pessoas.
Na segunda-feira (16), o presidente Trump causou consternação ao virar as costas aos tradicionais aliados dos Estados Unidos e ceder ao russo Vladimir Putin.
Em Joanesburgo, Obama também denunciou "a política do medo e do rancor". Ele atacou os políticos que "só mentem".
— Os políticos parecem rejeitar o conceito de verdade objetiva, as pessoas inventam — disse ele, provocando gargalhadas. —Devemos acreditar nos fatos — insistiu, enquanto o seu sucessor denuncia diariamente as "fake news".
— Não consigo encontrar um terreno comum com alguém que diz que a mudança climática não existe, quando todos os cientistas dizem o contrário — continuou Barack Obama.
Uma das primeiras atitudes de Donald Trump na Casa Branca foi retirar os Estados Unidos do acordo climático de Paris, dizendo ser "injusto" para a indústria em seu país. Sobre a política de imigração, Barack Obama atacou seu sucessor diretamente.
— Não é errado insistir que as fronteiras nacionais importam (...), mas isso não pode ser uma desculpa para as políticas de imigração baseadas na raça — disse ele.
Memória
O discurso de Obama em Joanesburgo marcou o auge das celebrações do centenário do nascimento de Nelson Mandela, ícone global da luta contra o apartheid, nascido em 18 de julho de 1918 e falecido em 5 de dezembro de 2013. A cada ano, a Fundação Mandela convida uma pessoa de prestígio para discursar no aniversário de "Madiba".
Depois de passar 27 anos nas prisões do regime racista branco, Mandela tornou-se em 1994 o primeiro presidente eleito democraticamente na África do Sul, um cargo que ocupou até 1999.
Mandela e Obama se viram uma única vez, em 2005, em Washington, mas se admiravam mutuamente. Mandela continua sendo uma das grandes referências morais de Barack Obama, junto com o ex-presidente americano Abraham Lincoln e com o defensor dos direitos civis Martin Luther King.
O presidente americano esteve no funeral de Mandela, em 2013, no qual o descreveu como "um gigante da história que conduziu um povo para a justiça" e como "o último grande libertador do século XX".
Nesta terça-feira, Obama saudou a memória de "um verdadeiro gigante da História".
— A luz de Madiba segue brilhando com muita força — afirmou, defendendo a visão de Mandela.
Problema histórico
O racismo ainda está presente em um país onde a pobreza persiste e que é o mais desigual do mundo, segundo o Banco Mundial. Coincidindo com o centenário de seu nascimento, a fundação Mandela pediu aos sul-africanos que "agissem e inspirassem mudanças" em nome de "Madiba".
Entre outras atividades, a celebração inclui competições esportivas, a publicação de testemunhos de pessoas que conheceram Mandela, a impressão de uma cédula com sua imagem e um grande show em dezembro, em Johannesburgo, com estrelas como Beyoncé, Jay-Z e Pharrell Williams.