Milhares de simpatizantes do presidente hondurenho, Juan Orlando Hernández, mobilizaram-se na capital, nesta quinta-feira (7), aos gritos de "mais quatro anos", para defender sua vitória eleitoral, a qual a oposição se nega a reconhecer diante das denúncias de fraude.
"Queremos Juan Orlando Hernández, porque com ele não há criminalidade", disse à AFP Mélida Gómez, 43 anos, funcionária de limpeza da prefeitura, uma das quase 10.000 pessoas que participavam da manifestação, de acordo com estimativas da imprensa.
Em uma nova tentativa de acabar com as dúvidas de fraude nas eleições, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) começou a revisar os votos de 4.753 urnas, mas sem a presença de representantes da esquerdista Aliança de Oposição contra a Ditadura, que exige a revisão de todas as 18.128 urnas.
Ao discursar para a multidão, na qual várias pessoas vestiam camisetas brancas e seguravam bandeiras azuis do Partido Nacional (PN, direita), o presidente pediu uma "solução" para Honduras.
Simpatizantes da Aliança de Oposição contra a Ditadura bloquearam alguns acessos da capital, em apoio a seu candidato, o popular apresentador de televisão Salvador Nasralla, que reivindicou publicamente a recontagem de todos os votos por parte de entidades internacionais.
Desconfiado do TSE, Nasralla reafirmou durante seu discurso a proposta de que entidades como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Europeia (UE) façam uma nova contagem de votos, além de uma auditoria do sistema de computação do Tribunal.
- Chama acesa -
Hernández se considera vencedor das eleições realizadas em 26 de novembro, ainda que o ganhador não tenha sido oficialmente declarado.
A contagem de votos feita pelo Supremo Tribunal Eleitoral (TSE) concede ao governante, de 49 anos, menos de dois pontos de vantagem sobre Nasralla, de 64 anos, que alega que estão lhe "roubando" a presidência.
Com 100% da apuração finalizada, o mandatário aparece na frente com 42,98% dos votos, enquanto Nasralla tem 41,38%, uma diferença de 52.445 votos.
Na primeira contagem de votos, o candidato opositor tinha cinco pontos de vantagem sobre Hernández, com 57% das atas contabilizadas. Essa tendência parecia irreversível.
Passadas algumas interrupções no sistema que computava os votos, ele voltou a funcionar, porém, reacendendo a fagulha que ocasionou os protestos.
- Vozes em repetição -
As entidades internacionais que acompanham o processo têm feito sérios questionamentos em relação ao processo eleitoral, e a missão de observadores da OEA advertiu que o acúmulo de irregularidades vistas durante as eleições não os permite "ter certeza dos resultados" finais.
Muitas opções foram consideradas para resolver a crise. Milhares de atas com indícios de irregularidades foram revisadas, mas a oposição pediu que outras 5.173 também fossem analisadas.
Posteriormente, foi mais incisiva ao solicitar a recontagem do total de 18.128 seções eleitorais, incluindo os votos, cadernos contendo as listas de votações e a ata dos resultados.
A missão da OEA comentou inclusive sobre a possibilidade de recomendar a realização de um novo processo eleitoral.
Nesta quinta-feira, a Convergência contra o Continuísmo de Hernández, integrada por várias organizações da sociedade civil, solicitou a invalidação das eleições e a realização de um novo processo eleitoral, diante da "insustentável situação" de possibilidade de fraude.
Até o momento, a aliança opositora ressaltou que não compartilha a decisão de uma nova rodada eleitoral.
- Batalhas e roubos -
Batizada de "Unidos pela paz", a marcha do oficialismo mediu forças após uma semana de manifestações dos seguidores do partido opositor, dirigido pelo ex-presidente derrubado Manuel Zelaya (2006-2009).
Alguns dos protestos de opositores culminaram em confrontos entre policiais e militares, além da ocorrência de roubos. Essa escalada mantém o país em estado de sítio há dez dias desde a última sexta-feira. Ontem, a medida foi suspensa em nove dos 18 departamentos do país.
Ao menos uma mulher de 19 anos e dois policiais morreram durante o conflito. Segundo organizações de direitos humanos, haveria entre 11 e 13 mortos.
Ignorada a proibição de reeleição estabelecida na Constituição e sob respaldo de uma decisão judicial de cinco magistrados, Hernández teve sua candidatura permitida.
* AFP