Honduras se manteve nesta quarta-feira (6) sobre a eleição presidencial, que apontou como vencedor o presidente Juan Orlando Hernández, enquanto a oposição pede uma recontagem total de votos, cujo início é incerto.
Embora o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) tenha se mostrado disposto a revisar as 18.128 atas das eleições de novembro, como pediu a aliança opositora, seus dirigentes não apresentaram a solicitação formal como pede o ente.
"Continuamos esperando uma proposta concreta da Aliança" de Oposição Contra a Ditadura, disse a jornalistas David Matamoros, presidente do TSE.
Hernández, de 49 anos, do Partido Nacional (PN), aceitou a contagem total e propôs uma "auditoria da perícia" ao servidor do TSE a fim de descartar qualquer indício de fraude.
Nesta quarta-feira, o presidente pediu a seus apoiadores que "defendam com tudo" o resultado da votação.
"Aqui temos que defender o que o povo hondurenho deu ao Partido Nacional (PN). Precisamos defender com tudo este resultado", disse Hernández em um encontro apoiadores do Partido Nacional, ressaltando que isso deve ser feito sem que haja confronto direto com os opositores. Ele convocou uma grande massa para quinta-feira, chamada "Unidos pela paz", em Tegucigalpa.
Com 100% das atas apuradas, Hernández aparece à frente com 42,98% dos votos, enquanto o candidato da Aliança opositora, o apresentador de televisão Salvador Nasralla, de 64 anos, obtinha 41,38%.
- Incerteza -
A incerteza sobre o desenlace eleitoral, com as denúncias de fraude, desataram protestos em massa, que em alguns casos incluíram saques, o que levou o governo a decretar estado de sítio, com toque de recolher noturno.
O Departamento de Estado dos Estados Unidos emitiu um alerta a seus cidadãos para que evitem viajar a Honduras pelos protestos e pelo toque de recolher.
O ex-presidente derrubado Manuel Zelaya, coordenador da Aliança de Oposição Contra a Ditadura, exigiu na terça-feira "uma comparação total entre caderno, ata e votos", segundo declarou à AFP. Do contrário, apresentou a possibilidade de anular o processo eleitoral, assinalando que "a lei contempla a nulidade quando se apresenta uma demanda".
Na terça-feira, organizações civis hondurenhas convocadas em Washington pelo Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil) denunciaram a morte de 11 manifestantes pelas mãos da Polícia e mais de 50 feridos em "um país altamente militarizado".
Milhares de policiais antidistúrbios e preventivos chegaram na terça-feira a um acordo com o governo para voltar a suas tarefas, um dia depois de tê-las interrompido, com a condição de não terem mais que reprimir manifestantes.
Organismos internacionais que observaram as eleições também pediram para verificar as atas. Os Estados Unidos exigiram "uma decisão transparente, imparcial e oportuna dos resultados das eleições", segundo assinalou em Washington a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert.
A ajuda econômica americana a Honduras depende de que o Departamento de Estado avalie anualmente o progresso em 12 áreas, entre elas o combate à corrupção e à impunidade, a redução da violência e a proteção dos direitos humanos.
- Processo contaminado -
Segundo Zelaya, o processo eleitoral "está contaminado" por interrupções suspeitas no sistema de computação do TSE na semana passada.
Coincidentemente, a OEA emitiu nesta quarta-feira um comunicado em que reiterou sua preocupação por anomalias registradas por sua missão de observadores, liderada pelo ex-presidente boliviano Jorge Quiroga.
Quiroga advertiu sobre "a falta de garantias e transparência, assim como o acúmulo de irregularidades, erros e problemas sistêmicos que cercaram este processo eleitoral, em sua etapa prévia, no dia da eleição e na etapa pós-eleitoral, que como corolário não permitem a essa Missão ter certeza sobre os resultados".
Na primeira contagem do TSE, Nasralla tinha uma vantagem de cinco pontos e depois dos cortes intermitentes, um deles de cinco horas, a votação virou à favor do presidente. O chefe de Estado se candidatou a um segundo mandato graças a uma sentença judicial que declarou inconstitucional uma proibição à reeleição contida na Carta Magna.
Nasralla assinalou que com uma amostra tão grande de 57% no primeiro resultado era impossível o reverterem.
* AFP