O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, de 93 anos, apresentou nesta terça-feira (21) a sua renúncia, após 37 anos no poder, anunciou o presidente do Parlamento Nacional durante uma sessão extraordinária.
"Eu, Robert Gabriel Mugabe, (...) apresento formalmente a minha renúncia à presidência da República do Zimbábue com efeito imediato", declarou o presidente da Assembleia Nacional, Jacob Mudenda, ao ler, sob aplausos, a carta de demissão do chefe de Estado.
"Escolhi me demitir voluntariamente (...) Esta decisão foi motivada por (...) meu desejo de assegurar uma transferência de poder tranquila, pacífica e não violenta", afirma Mugabe em sua carta.
O anúncio de sua renúncia foi comemorado por um ensurdecedor barulho de buzinas e gritos de alegria na capital Harare.
Desde o golpe militar, há uma semana, provocado pela demissão do vice-presidente Emmerson Mnangagwa, o presidente Mugabe perdeu seus apoios um a um.
O anúncio de sua demissão aconteceu enquanto os deputados e senadores debatiam em sessão plenária extraordinária uma moção de destituição.
Robert Mugabe, herói da guerra da independência, liderou seu país por quase 40 anos com punho de ferro, amordaçando a oposição e arruinando a economia do país.
A primeira-ministra da Grã-Bretanha, Theresa May, reagiu ao anúncio da renúncia, afirmando que a saída de Mugabe "oferece ao Zimbábue a oportunidade de forjar um novo caminho livre da opressão".
"Como o amigo mais antigo do Zimbábue, faremos o possível para apoiar" a transição política no país, acrescentou a chefe de Estado britânica.
- Pedidos de renúncia -
Antes do início da sessão parlamentar, o ex-vice-presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, uniu-se nesta terça aos pedidos de renúncia imediata do presidente, ao mesmo tempo em que os veteranos da guerra de independência convocaram protestos.
Quase uma semana depois da intervenção das Forças Armadas provocada por sua expulsão, Mnangagwa saiu do silêncio para exigir a renúncia do chefe de Estado.
O ex-vice, conhecido como "crocodilo", é considerado o favorito para liderar a transição política.
Mnangagwa, de 75 anos, foi destituído em 6 de novembro, por iniciativa da primeira-dama, Grace Mugabe, com quem competia para suceder o presidente.
A expulsão deste homem leal ao regime, herói da luta pela "libertação" do Zimbábue, provocou a intervenção das Forças Armadas, que controlam o país desde 15 de novembro.
- 'Bye bye Robert' -
"Toda a população deve abandonar o que está fazendo e seguir para a 'Casa Azul'", a residência privada do presidente do Zimbábue, para que Mugabe "abandone o poder imediatamente", declarou esta manhã à AFP o líder dos veteranos de guerra, Chris Mutsvangwa.
"As manifestações devem começar já", completou, antes de informar que os protestos estavam previstos para quarta-feira.
No sábado passado, dezenas de milhares de pessoas protestaram em Harare e na segunda maior cidade do país, Bulawayo, aos gritos de "Bye bye Robert" e "Adeus avô".
Centenas de manifestantes também protestaram na segunda-feira no campus da Universidade de Harare.
O próprio partido governista, Zanu-PF, decidiu iniciar um processo de impeachment no Parlamento.
Desta forma, por via legal, conseguiu o que nem os manifestantes nem o exército haviam conseguido até agora.
Reunida em caráter de emergência, a direção do Zanu-PF retirou de Mugabe o mandato de presidente do partido e anunciou um ultimato até segunda-feira ao meio-dia para deixasse a presidência do país, antes do início do processo de destituição.
Em sua resolução, o Zanu-PF acusou o presidente de "ter autorizado sua esposa usurpar seus poderes" e "não ser mais capaz fisicamente de assegurar seu papel".
Nesta terça-feira, vários membros do governo boicotaram o conselho de ministros convocado por Mugabe.
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* AFP