Centenas de milhares de refugiados rohingyas que fugiram de Mianmar vivem amontoados em campos insalubres de Bangladesh nos quais sonham com uma vida melhor longe dali.
O fechamento das rotas marítimas tradicionais usadas pelos traficantes obrigou esta minoria muçulmana perseguida em Mianmar a buscar outros meios para fugir de Bangladesh, onde não veem um futuro para eles.
"As pessoas se desesperam para sair dos campos", conta o líder Mohamad Idris.
"Os que têm ouro ou prata pagam traficantes para que os tirem por via aérea, e os que não têm tentam passar pela estrada", acrescenta.
Bangladesh, um país pobre do sul da Ásia, não concede o estatuto de refugiado aos recém-chegados, que são milhares.
Cerca de 70.000 pessoas cruzaram clandestinamente a fronteira no outono (do hemisfério norte) para fugir dos assassinatos, dos estupros em grupo e das torturas no oeste de Mianmar.
As autoridades proíbem que eles trabalhem e falam na possibilidade de levar esta população para uma ilha deserta do Golfo de Bengala que apresenta risco de inundações, uma ideia que deixou em alerta os defensores dos direitos humanos.
As rotas oceânicas usadas pelos traficantes para os rohingyas fugirem para o sudeste asiático estão muito vigiadas desde que as imagens de 2015 de embarcações cheias de pessoas famintas rodaram o mundo.
Mas os traficantes aguçaram a criatividade em busca de alternativas.
"É incrível até que ponto as redes de traficantes estão arraigadas no terreno e com que facilidade operam entre os países", constata Shakirul Islam, diretor da organização de ajuda aos migrantes Ovibashi Karmi Unnayan Program.
- Documentos falsos -
Estas máfias são capazes de fornecer passaportes falsos e certidões de nascimento bengalesas aos rohingyas, apátridas por não serem reconhecidos por Mianmar (de maioria budista), apesar de em alguns casos estarem há várias gerações no país.
A maior parte dos rohingyas de Bangladesh vive na miséria em campos do distrito costeiro de Cox's Bazar, no extremo sudeste do país. Antes da chegada em massa, no fim do ano passado, havia 300.000 pessoas.
Mohamad, um rohingya sem documentos de 20 anos, gastou 600.000 takas bengaleses (7.600 dólares) para chegar à Arábia Saudita, onde mora.
"Paguei a um amigo que me conseguiu um passaporte de Bangladesh e outros documentos. Também me ajudou a passar pela alfândega", declarou à AFP durante uma conversa por WhatsApp, pedindo para que não divulgasse o seu sobrenome.
Os que não podem pagar por uma passagem de avião pegam um ônibus ou vão caminhando até a Índia, ao Nepal ou ao Paquistão. Alguns se instalam na Caxemira, zona disputada entre a Índia e o Paquistão, e alvo frequente de confrontos.
- Pagamentos intangíveis -
A proliferação dos serviços de pagamento por celular em Bangladesh facilita o trabalho dos traficantes. Segundo um estudo, se torna mais fácil enviar dinheiro discretamente às pessoas que estão a caminho para que façam vista grossa.
"Distribuem de maneira eficaz o dinheiro entre todos os atores-chave", diz Selim Ahmed Parvez, pesquisador da fundação Manusher Jonno, "desde os traficantes locais até forças de ordem, responsáveis administrativos, políticos e líderes".
A Rapid Action Battalion (RAB) de Bangladesh, uma unidade de elite paramilitar, formada para lutar contra o extremismo e o crime organizado, assegura combater estas filiais.
"Acabamos com sucesso com as migrações por barco. Agora nos concentramos nas outras rotas de contrabando", afirma à AFP Nurul Amin, comandante da RAB em Cox's Bazar. Mas "se alguém está tão desesperado para migrar, na realidade, o que pode impedir?".
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* AFP