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A oposição venezuelana faz protestos, nesta terça-feira, para exigir a restituição das funções do Parlamento, a definição de um calendário eleitoral e a libertação de dirigentes e militantes oposicionistas presos pelo governo do presidente Nicolás Maduro. Os atos ocorrem depois que a Organização dos Estados Americanos (OEA) declarou que há uma "grave alteração" da democracia no país.
Cerca de mil manifestantes marchavam em direção à Assembleia, onde a maioria opositora iniciará, durante a tarde desta terça-feira, um processo para destituir os magistrados do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). Na semana passada, sob protestos da comunidade internacional, a Corte assumiu brevemente as funções legislativas e retirou a imunidade dos deputados.
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No entanto, pelotões de policiais impedem o avanço dos manifestantes rumo ao centro de Caracas, onde está marcada uma marcha do governismo que chegará até as imediações do Parlamento.
– Queremos liberdade na Venezuela. Isso é ditadura e em breve não haverá comida, é isso o que querem para os seus filhos? – gritava aos soldados María González, uma enfermeira de 56 anos.
Em uma primeira tentativa de romper o cordão de isolamento, a polícia lançou spray de pimenta para dispersar a multidão.
– Estão perto de cair, somos um país forte. O que aconteceu foi um golpe de Estado e a Assembleia tem que agir – disse Gonzalez, referindo-se às decisões do TSJ que foram parcialmente canceladas no sábado.
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"Lacaios do império"
Os arredores da Plaza Venezuela – onde os opositores foram convocados – amanheceram vigiados por dezenas de militares em veículos anti-motim. As forças de segurança também vigiavam os acessos ao centro da cidade e várias estações de metro foram fechadas.
– Se o povo da Venezuela continuar pressionando, sem nos intimidarmos, veremos a mudança em todos os níveis do governo a ponto de (o presidente) Nicolás Maduro ter que sair – declarou a jornalistas o vice-presidente da Assembleia, Freddy Guevara, durante a concentração.
Simpatizantes de Maduro, enquanto isso, se mobilizaram para rejeitar a resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA), que, na segunda-feira, declarou uma "grave alteração inconstitucional" na Venezuela. O organismo também resolveu avançar em gestões diplomáticas, incluindo uma possível reunião de chanceleres para recuperar a "ordem democrática" no país.
– Apoiamos Maduro diante destes ataques que querem um golpe de Estado. Rejeitamos todos os atos desses chanceleres lacaios do império – disse Angelo Oliva, um manifestante chavista.
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O presidente condenou, na noite de segunda-feira, a declaração da OEA e acusou o organismo de ter se convertido em um "tribunal de inquisição para perseguir a Venezuela".
As sentenças do TSJ abriram uma fissura no governismo, depois que a procuradora-geral, Luisa Ortega – chavista confessa –, as denunciou como uma "ruptura da ordem constitucional".
Devido a isso, Maduro convocou os poderes públicos a uma reunião – à qual o chefe do Legislativo não compareceu – em que foi decidida a suspensão das medidas mais recentes contra o Parlamento.
Mas a oposição, que classificou as decisões como um "golpe de Estado", anunciou que permaneceria nas ruas até que haja respeito à Assembleia, cujas decisões são consideradas nulas pelo TSJ, que a declarou em desacato em janeiro de 2016.
*AFP