Em 21 de abril o navio da Marinha uruguaia General Artigas retornou ao porto de Montevidéu com um fracasso em sua biografia. Os marinheiros não conseguiram encontrar tripulantes do Stellar Daisy, um gigantesco cargueiro que desapareceu em 31 de março a uma distância de 3,7 mil quilômetros da costa do Uruguai. Os relatos são de que ocorreu um naufrágio. Dois náufragos foram resgatados um dia após o desaparecimento do navio. As buscas se estenderam por mais de três semanas, sem sucesso.
Pertencente a uma empresa sul-coreana, mas com bandeira das Ilhas Marshall, o Stellar Daisy era um gigante dos mares. Tinha 321 metros de comprimento – o equivalente a três quarteirões – por 58 de largura. Foi fabricado em 1993, não sendo velho para os padrões náuticos.
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Foi por volta das 11h30min de 31 de março que a tripulação enviou ao armador um alerta de que havia entrada de água no casco a bombordo e que a embarcação estava adernando perigosamente. As buscas por sobreviventes foram iniciadas pelas autoridades uruguaias, em conjunto com a Marinha e a Força Aérea brasileiras e a Armada argentina. Dois tripulantes filipinos foram resgatados numa balsa salva-vidas no sábado, 1º de abril, pelo navio mercante Elpida. Segundo eles, o capitão havia alertado sobre a entrada de água no navio e que o casco estava se quebrando. Os marinheiros relataram, ainda, que viram o navio afundar, e que isso aconteceu muito rapidamente, mas não puderam dizer se o casco havia se partido. Outras duas balsas, vazias, foram encontradas pelo mesmo navio que resgatou os sobreviventes. 22 tripulantes continuam desaparecidos, sendo 14 filipinos e 8 sul-coreanos.
Gastón Jaunsolo, porta-voz da Marinha do Uruguai, disse a Zero Hora que tudo indica que o navio se partiu e afundou.
Uma das hipóteses apontadas para a possível causa do naufrágio é a liquefação do minério transportado, resultante de umidade excessiva. Ele transportava ferro, que diante de umidade elevada no porão pode se liquefazer durante o transporte, adquirindo um comportamento semelhante ao da lama. O movimento de uma carga liquefeita dentro dos porões pode comprometer perigosamente a estabilidade da embarcação.
Especialistas consideram, porém, improvável que a liquefação tenha causado o naufrágio, já que apenas o terço central do casco era usado para comportar carga, e qualquer movimento do minério estaria restrito a essa parte. Analistas do site Alphabulk (especializado em navegação) apontam outra hipótese: problemas estruturais devido à conversão do navio de petroleiro para graneleiro (transportador de grão ou minério), um tipo de alteração em que diversos riscos são enfrentados. Uma inspeção realizada na Coreia do Sul, em fevereiro de 2017, encontrou seis irregularidades no Stellar Daisy, incluindo duas relacionadas às portas estanques, mas o navio foi liberado.
Após o acidente, a segurança de outros graneleiros convertidos nos anos 2000 passa a ser questionada. Em 6 de abril de 2017, foram descobertas rachaduras no casco do navio Stellar Unicorn, que pertence ao mesmo armador e passou pela mesma conversão. A embarcação, que fazia uma rota similar à do Stellar Daisy, ancorou próximo à Cidade do Cabo para realizar reparos urgentes. Dos 32 graneleiros da frota da Polaris Shipping, 19 eram originalmente petroleiros que foram convertidos em cargueiros.