Epicentro do terremoto político chamado Donald Trump, Nova York viveu nas últimas 24 horas sentimentos que variaram do otimismo à desconfiança, passando pela tensão, pela desilusão, pela festa de alguns e pelo espanto de muitos. Com sua capacidade de transformar quase tudo em show, a noite da eleição acabou fatiando Manhattan em áreas diferentes, de acordo com a simpatia dos eleitores – e a tendência das emissoras de TV. A Sexta Avenida era uma espécie de divisão entre dois mundos e duas visões de EUA – de um lado, os que defendiam a candidata democrata Hillary Clinton e o legado de Barack Obama; de outro, aqueles que desejavam a mudança prometida por Donald Trump.
No Rockefeller Center, entre a decoração natalina e telões, eleitores de Hillary acompanhavam pela NBC News. A duas quadras dali, em frente ao prédio da News Corporation, apoiadores de Trump, em menor número, seguiam, voto a voto, a apuração pela Fox News. Entre os democratas, uma multidão, que desconfiou quando Trump largou na frente nos primeiros Estados, mas que permaneceu confiante. Só se preocupou quando a largada de Trump se consolidava. Era praticamente impossível virar. Uma mensagem cifrada em sua conta no Twitter deixou os eleitores em suspense. Hillary afirmou: “O que quer que aconteça nessa noite, obrigado por tudo”. O que estava para acontecer?
Hillary ainda passaria à frente no número de delegados e haveria uma pequena vibração da noite no Rockefeller. Fora a última. No prédio da NewsCorp, uma minoria barulhenta começava a celebrar.
A certa altura, quando Hillary perdeu na Flórida, os eleitores do Rockefeller sentaram-se ao chão frio. A maioria era formada por jovens e adolescentes. Alguns levavam a mão à boca a cada derrota. Outros abraçavam-se a bandeiras dos EUA, ao namorado, à mãe, ao irmão. Estado por Estado, Trump coloria de vermelho o mapa da América.
A 10 quadras dali, no centro de convenções Jacob K. Javits, eram esperadas 40 mil pessoas para a festa da vitória de Hillary. Não havia mais do que mil. Trump ganhava em Ohio, confirmava a Pensilvânia... E a multidão do Rockefeller foi se encaminhando para casa.
Eleitores com camisetas e bonés de Trump, que não haviam aparecido em Nova York – reduto dos democratas – nos últimos dias, começaram a emergir na Sexta Avenida na direção do Hilton Hotel, onde o republicano prometera a sua festa.
Com a apuração estagnada, faltando poucos delegados para Trump ser eleito, o chefe de campanha de Hillary, John Podesta, apareceu no Jacob K. Javits dizendo que a candidata não falaria até o dia seguinte. A apuração não havia terminado, e ele estava, na prática, mandando a militância ir dormir. Houve temores, entre os republicanos, de que a candidata não aceitasse o resultado – uma ironia, já que Trump, durante a campanha, é que deixara em suspense se admitiria o resultado final das urnas. Ao final, os militantes de Hillary estavam certos. O tuíte de agradecimento era também sua última manifestação.
Oito anos depois da promessa de “mudança” de Barack Obama, os americanos deram – olhem só, uma nova ironia - a Donald Trump as chaves da Casa Branca para começar a mudar o país. E a se mudar para Washington.