Os oradores do baile de gala em Nova York, em novembro, vieram elogiar o convidado de honra: o novo presidente e principal executivo do Comitê Internacional de Resgate, David Miliband, 48 anos. Em meio a todos os ditos espirituosos do circuito das entidades beneficentes expressados por grandes nomes como Bill Clinton, George Soros e Samantha Power, uma observação de Madeleine Albright, ex-secretária de Estado dos Estados Unidos, foi a mais relevante.
- Eu gostaria de desfazer o boato de que o próprio David buscou refúgio nos EUA da mais terrível das tiranias democráticas, os jornais sensacionalistas britânicos. -
Ela falou com razão, mas claramente ninguém culparia Miliband - ex-ministro do exterior britânico, candidato a líder do Partido Trabalhista e vítima da tortura jornalística - se escapar faziam realmente parte dos motivos para fugir da Inglaterra no final do verão do Hemisfério Norte.
Em Londres, Miliband mal e mal podia sair para comprar pão sem um jornal ou outro analisar a compra pela perspectiva insalubre da coisa mais publicamente traumática que lhe ocorreu nos últimos anos: a derrota humilhante nas mãos do irmão mais jovem, Ed, agora com 43 anos, na eleição de 2010 para líder do Partido Trabalhista; Ed Miliband ainda detém o cargo. O episódio injetou veneno no círculo íntimo do partido, definindo os irmãos como Caim e Abel da política britânica, garantindo que o país não era grande o bastante para os dois.
Miliband é um nome familiar na Inglaterra, mas em Nova York, onde se instalou com a esposa e os filhos de seis e oito anos em um apartamento alugado em Manhattan, ele enfrenta o fenômeno oposto. Tirando quem acompanha muito de perto a história recente da diplomacia ocidental quase recente, ninguém sabe quem é ele. Entre os que ignoram estão os pais dos colegas de escola de seus filhos que, ao menos no começo, não reconheceram a celebridade estrangeira em seu meio.
- É um desafio meio diferente - , ele afirmou há pouco tempo durante um almoço em um restaurante, nos arredores da sede da entidade. - Sem sombra de dúvida sou uma figura muito menos interessante para a imprensa norte-americana. Aqui, nós tentamos atrair sua atenção enquanto lá nós estávamos tentando reduzir o interesse - , acrescentou em alusão ao papel no Comitê de Resgate Internacional.
Miliband é um inglês típico, com a discrição e a autodepreciação entrelaçadas à autoconfiança. Encabulado, ele contou que há pouco tempo se desculpou no supermercado por comprar somente um item, uma caixa de leite; o caixa não entendeu por que ele se desculpava. Ele usou "ascensor" durante a entrevista, rapidamente trocado por "elevador", e contou que os filhos estão controlando o sotaque. Um deles o criticou recentemente por errar a pronúncia do nome de um amigo de escola: "Grahnt", disse Miliband; "Grant", corrigiu o filho.
O Comitê de Resgate, onde Miliband embarcou para seu segundo ato, é uma das instituições de caridade de ajuda a refugiados mais famosas do mundo, com um orçamento de US$ 450 milhões neste ano, mão de obra de 12 mil pessoas e presença em 40 países e 22 cidades norte-americanas. Embora uma força formidável no mundo humanitário, o comitê, agora com 80 anos de idade, foi obscurecido na percepção pública por organizações como Save the Children e CARE. O plano é que com sua experiência internacional e contatos valendo ouro, Miliband consiga atrair novas fontes de financiamento, além de elevar a visibilidade do organismo.
O cargo chegou na hora certa para Miliband, antes visto como possível candidato a primeiro-ministro. Sem cargo público depois que o Partido Trabalhista perdeu a eleição de 2010 e, a seguir, sem posto partidário quando o irmão o derrotou como líder, Miliband se tornara a mais infeliz das criaturas parlamentares, um antes importante membro secundário do Parlamento inglês agora subempregado.
Preso nesse limbo desagradável, ele procurava ansiosamente por algo que lhe permitisse atacar os "problemas grandes e complicados" com os quais lidava enquanto secretário do exterior. Miliband estava inquieto e tinha experiência no setor beneficente. Seu primeiro emprego foi como analista de políticas do grupo britânico Conselho Nacional para Organizações Voluntárias.
- Eu queria alguma coisa global, e para mim teria sido complicado assumir um emprego no Reino Unido. Caso eu estivesse na Grã-Bretanha, mas não na política, não iriam parar de me perguntar por que eu não estava mais na política. -
Na verdade, em um possível gesto de conciliação que claramente chegou ou cedo ou tarde demais, Ed Miliband lhe ofereceu um posto no gabinete da oposição, mas David recusou a oferta deixando o Parlamento em abril.
Antigos funcionários do Comitê reagiram à sua nomeação com certa cautela, principalmente por causa do fato de Miliband ser estrangeiro, por sua celebridade, sua falta de experiência em comandar organismos sem fins lucrativos e por desconhecerem como seria seu estilo de administração.
Maureen White, integrante do conselho de administração do Comitê, afirmou que com sua experiência e inteligência, ele deslumbrou o conselho ao presidir a primeira reunião, além de deslumbrar os perto de 30 convidados que o conheceram em um jantar oferecido a ele por ela, que contou com pessoas como o prefeito Michael R. Bloomberg, Pete Peterson, Barry Diller e Mortimer B. Zuckerman.
- Nós tivemos uma discussão animada. Nós conversamos sobre coisas como a Síria e o Irã, então ele se levantou e falou a respeito da esposa, da família e de suas inúmeras conexões com os EUA - , contou ela.
E são muitas. A família de Miliband viveu um ano nos arredores de Boston em 1977 quando o pai foi professor convidado da Universidade Brandeis. Mais tarde, David recebeu a bolsa de estudos Kennedy no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), concluindo o mestrado em ciência política em 1989. A esposa, Louise Shackelton, violonista que desistiu do posto na Orquestra Sinfônica de Londres para se mudar para Nova York, tem dupla cidadania.
Miliband tem uma afinidade especial com o drama dos refugiados. Os pais fugiram para a Grã-Bretanha; o pai vindo da Bélgica, em 1940, e a mãe da Polônia sete anos depois. Eles se tornaram uma família esquerdista famosa em Londres, e a política era um dos principais assuntos ao redor da mesa de jantar da família.
Além de se acostumar ao emprego, Miliband também está se acostumando à Nova York, incluindo o clima amistoso, as grandes porções de comida com as doses ocultas de açúcar e o sistema metroviário com ratos e não camundongos. Ele vem tentando montar os novos móveis da Ikea, um fardo universal no mundo ocidental.
A respeito do novo emprego, Miliband afirmou: - Existem menos guerras do que nunca, mas mais refugiados do que nunca. Existem novas pressões no mundo da intervenção humanitária. Existem novas pressões da guerra civil, mudança climática, novos protagonistas. O mundo islâmico está entrando no bem-estar social em vários países. Existem novas filantropias na África e em outros lugares; o setor privado quer desempenhar um papel - Ele disse não sentir falta da política e, sim, do governo.
- George Kennan disse que deixar o governo é como o fim de um caso amoroso. A característica dos casos amorosos é que você sai de um e entra em outro, e eu comecei um caso de amor com o Comitê. -
Miliband terminou o almoço e pediu uma sobremesa com um sonho, mas deixou metade (com todo aquele açúcar). Era o Dia das Bruxas e ele falou entusiasmado sobre o desfile de rua planejado em seu bairro, onde as crianças teriam a chance de exibir as fantasias. Porém, nada de disfarce para ele.
- Você deve estar brincando - , ele afirmou.
Depois da atenção estressante dos últimos anos, existe um quê relaxante em não ser objeto do interesse popular.
- Acha que estou caminhando triste por aqui porque as pessoas não me reconhecem? Nada disso. -
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