Sendo o centenário de Willy Brandt, a imagem está muito presente na Alemanha. O ex-chanceler ajoelhado no gueto de Varsóvia no ato silencioso que definiu a vergonha alemã pelo Holocausto. Como Brandt diria mais tarde, - carregando o fardo dos milhões que foram assassinados, fiz o que as pessoas fazem quando ficam sem palavras - .
Tais atos simbólicos carregam importância enorme. Eles entram no reino do mito ao se conectar com um lugar humano além e antes das palavras. A imagem de 1970 é impressionante, um alemão motivado pela emoção e convicção a um gesto pessoal espontâneo pelos judeus massacrados. Outros momentos do gênero vêm à mente: Anwar Sadat, o presidente egípcio, falando ao Knesset, o Parlamento israelense, em 1977; François Mitterrand e Helmut Kohl, líderes da França e da Alemanha, dando as mãos em Verdun, em 1984, no lugar onde centenas de milhares de seus conterrâneos morreram combatendo uns aos outros em 1916; o aperto de mão "chega de sangue e lágrimas" entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat no gramado da Casa Branca, em 1993, antes de mais sangue ser derramado entre israelenses e palestinos (e entre eles).
E então, como se fosse a imagem desse fracasso, vem um branco. Nossa era não é rica Desses momentos solenes e icônicos de conciliação ou contrição. Talvez seja porque o cálculo e o ponto de vista derrotaram a convicção e assim enterraram a espontaneidade na vida pública. Talvez seja a obsessão com o controle - e a multiplicação de meios para garanti-lo - que tornou a política mais árida. Talvez seja a morte pós-moderna do idealismo político. Ou talvez seja o próprio volume de imagens que dificultam que uma só delas defina a mudança histórica. A imagem mais poderosa do século XXI ainda é o dos aviões transformados em mísseis atingindo as Torres Gêmeas em 2001. Desde então, as guerras distantes não produziram aperto de mãos pela paz, nem consolo nem resolução. Barack Obama, foco de sonhos, se mostrou um presidente cuidadoso.
Pensando em Brandt, eu vim aqui ver seu colega social democrata e quase contemporâneo, Helmut Schmidt, que se tornou chanceler, em 1974, pouco depois da renúncia do primeiro. Schmidt tem 94 anos. Durante uma conversa de duas horas, ele fumou sem parar. Ele fuma três maços por dia desde os 15 anos. Seriam 60 cigarros por dia durante quase 80 anos. As regras exigem exceções ou a vida seria insuportável.
Schmidt foi um líder forte que disse sempre ter tido certeza da unificação alemã, mas não esperava que acontecesse tão rapidamente.
- Temos de agradecer principalmente a Gorbachov e Baker - , ele afirmou, citando o ex-líder soviético e o então secretário de estado dos Estados Unidos. - Mitterrand e Thatcher eram claramente contrários a isso. -
Perguntei a Schmidt, que ainda trabalha como editor do semanário "Die Zeit", sobre a chanceler Angela Merkel e a crise do euro.
- Merkel não sente a União Europeia dentro do coração. Com sua mente racional, sim, ela compreende sua importância, mas não tem a prestabilidade, afinidade e solidariedade. Existe falta de solidariedade. Com um superávit de 240 bilhões de euros na conta corrente, a Alemanha tem de demonstrar mais solidariedade. -
Ele continuou: - Ela cresceu na Alemanha Oriental, e as pessoas de lá ansiavam pela liberdade não pela Europa. E isso significava os EUA, não os poloneses ou tchecos. A liberdade sobrepujou a Europa. Na verdade, a Europa se encontra um degrau acima da liberdade. Eu tendo a pensar que ela tem sentimentos mais fortes pelos Estados Unidos do que pela Europa. -
Schmidt foi inflexível.
- Os alemães têm de mudar a abordagem. Nós temos o maior superávit em conta corrente do mundo, mais do que a China. No final das contas, a Alemanha terá de responder à pressa e gastar mais. Esse superávit enorme traz uma necessidade moral. -
A dívida terá de ser perdoada e créditos a longo prazo concedidos para ajudar a conduzir Grécia e Espanha no caminho da recuperação.
- Isso é comparável ao perdão da dívida alemã na década de 1950. -
As palavras saíam em uma nuvem de fumaça acompanhada por um brilho nos luminosos olhos cinza-azulados - remontando a declarações diretas e abertas de um tempo em que os líderes não mediam palavras, quando eles eram indivíduos e não commodities administradas. Brandt e Schmidt, a exemplo de Adenauer e Kohl, eram figuras imponentes se comparadas aos pigmeus europeus de hoje em dia.
Falando em imagens indeléveis, Schmidt nasceu um ano depois de John F. Kennedy. Meio século após seu assassinato, o mistério continua. As palavras de Kennedy, a exemplo da genuflexão de Brandt, nos advertem: "Com frequência demais nós desfrutamos do conforto da opinião sem o desconforto do pensamento."
Alemanha
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