As autoridades russas entregaram nesta quarta-feira aos Estados Unidos o plano para submeter o arsenal de armas químicas sírias ao controle internacional, informou a agência russa Itar-Tass.
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, e o secretário de Estado americano, John Kerry, vão se reunir na tarde desta quinta-feira em Genebra. Uma fonte russa, citada pela agência Itar-Tass, teria indicado que o encontro pode se estender até sábado.
A Rússia anunciou ter proposto aos aliados sírios colocar os estoques de armas químicas sob controle internacional, o que foi aceito por Damasco. Durante um fórum online organizado pelo Google+, John Kerry afirmou que Lavrov tem ideias interessantes:
- Se nós pudermos realmente neutralizar todas as armas químicas da Síria por este meio, seria claramente a forma mais adequada, e de longe, uma verdadeira conquista.
Os Estados Unidos, no entanto, permanecem reticentes sobre o êxito desta empreitada, e reafirmaram, junto à França, seu compromisso militar de intervir contra o regime sírio se os esforços diplomáticos fracassarem.
O presidente americano, Barack Obama, e o francês, François Hollande, temem que esta guinada na situação síria se trate de uma manobra para adiar mais um ataque, mas não podem rejeitar a mão que Damasco e seu aliado russo estão estendendo.
- A França seguirá mobilizada para punir a utilização de armas químicas por parte do regime sírio e dissuadir o país de reincidir - anunciou o presidente francês ao final de um conselho de defesa.
Durante esta reunião, Hollande ressaltou a determinação da França de explorar todas as vias no Conselho de Segurança das Nações Unidas, para permitir, o quanto antes, um controle efetivo e verificável das armas químicas.
Essas declarações foram feitas um dia após o discurso de Barack Obama, que considerou a proposta russa de submeter as armas químicas ao controle internacional como um sinal de esperança.
- Esta iniciativa tem o potencial de remover a ameaça das armas químicas sem o uso da força, particularmente porque a Rússia é um dos mais fortes aliados de Assad - declarou Obama, que também reconheceu que é muito cedo para saber se a proposta terá êxito.
O presidente americano pediu ao Congresso que adie a votação de autorização de uma ação militar contra a Síria.
Já o guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, um fiel aliado do regime sírio, anunciou que espera que a decisão de Washington de aguardar os resultados da proposta russa seja séria.
Possível recurso à força, uma questão crucial
Em seu discurso, Obama lembrou que a opção militar segue sobre a mesa e que está decidido a manter a pressão sobre o regime sírio.
- Mesmo um ataque limitado enviaria uma mensagem a Assad que nenhuma outra nação pode enviar - afirmou o líder americano, acrescentando que não mobilizará tropas em terra.
E o presidente israelense, Shimon Peres, disse estar convencido de que os Estados Unidos só irão intervir militarmente na Síria se suas autoridades não forem sinceras sobre o arsenal de armas químicas.
- Sempre é melhor obter resultados pela diplomacia do que pela guerra, mas a questão central atualmente é a sinceridade do regime sírio - disse Peres.
Em declarações feitas nesta quarta-feira, Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, afirmou que as "atrocidades" cometidas na Síria representam um "fracasso coletivo" da comunidade internacional.
- Nosso fracasso coletivo em evitar as atrocidades cometidas na Síria há dois anos e meio pesará duramente sobre a reputação da ONU e dos Estados membros - disse Ban, durante um debate na Assembleia Geral da ONU, sobre o conceito Responsabilidade de proteger, estimulando mais uma vez o Conselho de Segurança a tomar ações.
Já o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, afirmou que a utilização de armas químicas na Síria merece uma clara condenação e precisa de uma resposta forte.
- A comunidade internacional, com as Nações Unidas no centro, deve assumir uma responsabilidade coletiva para punir estes atos e colocar fim a este conflito - acrescentou Barroso em seu discurso anual sobre a União Europeia ante o Parlamento Europeu em Estrasburgo.
Pouco depois, em um debate sobre a Síria na Eurocâmara, a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, pediu que os membros do Conselho de Segurança da ONU "assumam suas responsabilidades" na resolução do conflito sírio.
- O papel do Conselho de Segurança é inevitável, mas seus membros têm que assumir suas responsabilidades e é verdadeiramente lamentável que até agora não tenham feito isso no âmbito do conflito na Síria - opinou Ashton.
Na frente de batalha, combatentes do grupo extremista sunita Frente al-Nosra mataram doze civis alauítas perto de Homs, no centro da Síria, informou nesta quarta-feira o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede no Reino Unido que obtém informações graças a uma rede de ativistas e de fontes médicas no país.
Possível intervenção
Rússia entrega aos EUA plano de controle de armas químicas na Síria
O ministro russo das Relações Exteriores e o secretário de Estado americano irão se reunir nesta quinta-feira
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